Quem não tem e quer mostrar intimidade com o Carnaval logo se destaca negativamente. Pode não faltar vontade, mas sobra atrapalhação. Pés de chumbo, pernas presas, cintura dura, braços que se erguem sem ritmo, no rosto uma alegria e um sorriso fabricados, qualquer fantasia ou simples adereço cai mal. Uma triste figura em meio à alegria. Aqui no Rio ela tem nome, sobrenome e cargo: governador Wilson Witzel.
Em sua vaidade, Witzel lembra Clóvis Bornay —o criador da fantasia Príncipe Hindu no primeiro baile de gala do Theatro Municipal, em 1937—, mas sem um pingo do talento de Bornay. Bancou a reforma do Sambódromo em mais de R$ 8 milhões, fechou um patrocínio de R$ 20,5 milhões para as escolas de samba do Grupo Especial e tem planos de estender o desfile por três semanas, trazendo da Disney atrações como Mickey, Pato Donald e Pateta.
Mandou avisar na Assembleia Legislativa que todos os 70 deputados estavam convidados para o camarote oficial de três andares, cujos gastos com comida e bebida foram pagos pela Liesa. Nem dez parlamentares compareceram, só os da base do governo. Sete deputados do PSL protocolaram semana passada na Alerj um pedido de impeachment contra Witzel após a divulgação de supostos grampos na Casa. O processo já ganhou apelido: “impeatzel”.
No domingo (23), o governador foi vaiado duas vezes. A primeira, quando um locutor agradeceu o patrocínio financeiro. Depois, com a Mangueira começando o desfile, os componentes cantando a parte do samba que diz “Não tem futuro sem partilha/ Nem messias de arma na mão”, ele se arriscou a tirar fotos no meio da pista. Recebeu as vaias e respondeu distribuindo corações com as mãos.
Solidários com Witzel só os puxa-sacos e o governador de São Paulo, João Doria, que passou 40 minutos no camarote. A Doria também falta um convívio mais estreito com o samba.
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