Amigo do arquiteto Paulo Casé, Millôr Fernandes defendeu o obelisco de Ipanema da saraivada de críticas que a obra recebeu quando inaugurada, em 1996: "O Pirocão, como dizem os mais grossos, deveria ter o dobro do tamanho". Defendeu ou demoliu de vez?
Com 22 metros e uma bola no topo, fica no meio do cruzamento da rua Visconde de Pirajá com a avenida Henrique Dumont. Hoje é ruína, monumento a não se sabe o quê, espécie de sítio histórico do mau gosto, lembrando os exageros do projeto Rio-Cidade, executado pelo ex-prefeito Cesar Maia: postes tortos, asfalto colorido, calçada de tijolinho. Havia uma passarela ligando o nada a lugar nenhum, botada abaixo num domingo de sol de 2009 —os moradores deixaram a praia para aplaudir a retirada das toneladas de ferro e concreto.
Antes imbatível no aspecto feiúra, o pirulito do Casé tem agora forte concorrente. O Memorial às Vítimas do Holocausto é um estupro de 20 metros à paisagem e ao entorno do morro do Pasmado, vizinho do morro da Urca e da enseada de Botafogo. A construção do obelisco —onde se lê "Não Matarás"— removeu a vegetação de uma área entre o mar e montanha que em 2012 foi considerada pela Unesco patrimônio mundial.
Segundo reportagem de Catia Seabra na Folha, o Iphan emitiu parecer contrário à edificação no antigo mirante, mas o ex-prefeito Marcelo Crivella liberou a obra, cedendo o terreno por 30 anos, prorrogáveis por mais dez, e autorizando ali a construção de um café e um auditório.
No passado, a obsessão do carioca por obeliscos era disfarçada levando em conta algum senso estético. Inaugurada em 1906, a peça de granito que marca a abertura da avenida Rio Branco está integrada ao Centro da cidade e ao aterro da baía de Guanabara.
Projetado por Lúcio Costa, o Monumento a Estácio de Sá, no Flamengo, com sua base triangular, é o mais belo e sóbrio de todos, tendo ao fundo o Pão de Açúcar.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.