Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alvaro Costa e Silva

A metamorfose dos botequins

Beber um chope diante do mar de Ipanema custa uma nota (e sem direito a ovo colorido)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Deu na coluna do Ancelmo: um bar da rede Belmonte, recém-inaugurado em Ipanema, cobra R$ 150 (por pessoa) de consumação mínima só para ficar no terraço e desfrutar a vista da praia. A nota considera o preço “salgado”. Salgada é a água do mar; essa prática tem outro nome.

Quando Ipanema era “só felicidade”, esbanjava botequins. Autênticos pés-sujos, categoria hoje em extinção, com bebuns folclóricos, ovo colorido, imagem de São Jorge na parede e o lembrete fatal: fiado só amanhã. O Mosca, na rua Vinicius de Moraes, quase na Lagoa, é tido e havido como o pior boteco do bairro. Mas para mim, que o frequentei no tempo de estudante, foi um oásis com miragens de ovos cor-de-rosa.

Na esquina da avenida Vieira Souto com a rua Rainha Elizabeth, o Mau Cheiro era moda nos anos 60. Até que a turma do Cinema Novo, que em suas mesas bolou a estética da fome, cometeu a ingratidão de abandoná-lo. Perdido o charme, virou Barril 1800, metamorfoseado em bar de turista. Ao lado, surgiu o Castelinho. Com guarda-sóis na calçada e um bando de gente usando sunga e biquíni, era um lugar de, como se dizia na época, paquera. Mas o Castelinho nunca foi um boteco raiz.

O Veloso, na antiga rua Montenegro, sim. Atual Garota de Ipanema, existe desde 1945. Era uma mercearia chamada O Botineiro, onde se vendia pinga no balcão —aprendi isso lendo “Ela é Carioca”, o livro de Ruy Castro. Tom e Vinicius fizeram do Veloso um posto de observação da vida. Em 1962, os dois viram a garota entrar para comprar cigarros para a mãe dela e... O botequim jamais seria o mesmo. Apesar da fama, não cobra consumação. Você pode disfarçadamente pegar o copo, andar uns poucos metros e chegar à praia.

Se vier o propalado golpe, no futuro farão uma enquete: “Onde você estava no Sete de Setembro de 2021?”. Um cidadão poderá responder: “No Belmonte. Paguei R$ 150 e fiquei olhando as ilhas Cagarras. O chope estava horrível”.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.