Quem contou e apurou garante que foi uma mentira a cada três minutos, média condizente para quem deu mais de 6.000 declarações falsas ou distorcidas no período em que está na Presidência. Um festival de lorotas transmitido ao vivo no horário nobre, sintonizado por metade dos televisores ligados no país, maior audiência do Jornal Nacional desde os tempos de pico da Covid, em 2020: 43,2 milhões de pessoas. O que mais na vida pode querer um mentiroso?
Dar um golpe para continuar mentindo. Nos 40 minutos da entrevista houve uma única certeza. Ao ser cobrado a assumir o compromisso de que respeitará o resultado das eleições, a resposta de Bolsonaro indicou sua falta de compromisso, pois colocou uma condição: "Desde que sejam limpas". Referia-se à campanha que ele inventou contra as urnas eletrônicas.
Na sua vez, Ciro Gomes aplicou uma oratória sedutora, mas repleta de impossibilidades reais. É o candidato ideal para quem não quer se comprometer na briga dos dois cachorros grandes. Em seguida veio Lula, pigarreando, com a voz cansada de guerra; a cabeça, no entanto, está tinindo e o domínio do palco político no auge da forma. Não só driblou as cascas de banana —corrupção, governo Dilma, as relações com o agronegócio e o MST— como encontrou as deixas para desmoralizar Bolsonaro, a quem chamou de bobo da corte. Fez da temível sabatina um papo de picanha, cerveja e futebol.
Na ânsia de combater o STF —que não teve como moldar a seus interesses, como fez com a PGR e a Câmara—, Bolsonaro parece ter se esquecido de que, antes, há de derrotar Lula.
Um erro de fabricação impede o bolsonarismo de seguir as regras do jogo democrático. Para continuar a saga da mentira, é preciso contaminar mais e mais as instituições —e, se possível, dobrá-las. A prova está no grupo de empresários amigos do presidente que desejava dar um golpe que impedisse a vitória do petista.
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