Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições 2022

Tchutchucas pró-golpe em favor de Bolsonaro merecem a infâmia

Empresários teriam sorte diferente nos EUA, mas a democrática NY não tolera mais os Trumps

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Os oito empresários que defenderam golpe militar, se Lula vencer em eleição limpa, teriam sorte diferente nos Estados Unidos. A Primeira Emenda da Constituição seria invocada para proteger o direito de trocar mensagens sórdidas —como as reveladas pelo site Metrópoles—, contas bancárias não seriam bloqueadas nem celulares apreendidos com tanta rapidez.

E, para ser aceita na Suprema Corte, que nos EUA não emite decisões monocráticas, a acusação contra os pilantras teria que passar por outras instâncias.

É preciso saber se o ministro Alexandre de Moraes tomou sua decisão com base em descobertas de outra investigação, a que corre em segredo, sobre apoio material dos mesmos endinheirados "fanboys" do fascismo às manifestações do 7 de Setembro no ano passado.

Empresários bolsonaristas que defenderam golpe em mensagens privadas. Da esq. para a dir., no alto: Marco Aurélio Raymundo, Meyer Nigri, Afranio Barreira e André Tissot; acima: José Koury, José Isaac Peres, Luciano Hang e Ivan Wrobel - Folhapress, Agência ALESC e Reprodução

O poder de compra de políticos da classe empresarial americana daria inveja a canalhas como Marco Aurélio Raymundo, médico surfista e mal alfabetizado gaúcho que defendeu o derramamento de sangue —dos outros, claro— convencido de que um golpe armado seria bom para o caixa de sua para sempre manchada marca Mormaii.

Em 2010, a Suprema Corte americana tomou uma das decisões mais danosas para o sistema democrático quando equiparou limites ao financiamento de políticos por empresas ao limite da liberdade de expressão. Até então, leis eleitorais que regulavam os fundos de campanha vigoravam há mais de um século e eram vistas como ferramenta legítima de combate à corrupção.

Quando dólares são tratados como palavras, fala mais alto, é claro, quem controla mais cifras. O fetiche com a Primeira Emenda nos EUA é tal que a imprensa, para quem ela é oxigênio, demonstra timidez na cobertura do chamado "dark money" que degrada o sistema político e rouba da população direitos que não eram mais questionados, como serviços sociais, ar limpo, água potável e acesso à saúde.

Alguém acredita que há um macacão laranja no futuro do octogenário José Isaac Peres, bilionário dono da empresa de shoppings Multiplan, um beócio que finge acreditar que as pesquisas da Datafolha são conspiração, não estatística? Eu não.

Se queremos começar uma tímida cicatrização nacional depois desta Presidência catastrófica, o cabal de poderosos facilitadores que odeiam o Brasil precisa enfrentar a infâmia na praça da opinião pública.

Não se espera de gente como André Tissot, da gaúcha Sierra, de móveis de luxo, que lamentou não ter havido golpe logo depois da posse, em 2019 ("Teríamos ganhado dez anos a mais") qualquer contrição pública por argumentar que 150 milhões de brasileiros foram às urnas, em 2018, para perder o direito de votar. Só sente vergonha quem tem alguma bússola moral.

Mas há como tornar mais caro o preço da degradação vista nas mensagens que os empresários digitaram, contando com segredo, e já estamos vendo exemplos na reação de desprezo da turma da Faria Lima, que nunca seria acusada de visionária da liberdade democrática.

É legítimo tornar famosos esses conspiradores, divulgar fotos, que constam dos sites públicos das empresas; defender boicotes das marcas; manter viva a memória de sua depravação, cada vez que inaugurarem um novo empreendimento.

Há uma família nova-iorquina da gema, dona de empresas com sede em Manhattan, hoje desterrada na Flórida. Não há festa beneficente, gala de museu ou estreia da Broadway que dê boas-vindas a um dos cinco adultos de sobrenome Trump.

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