Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Baía de Guanabara: da beleza à sucata

População está tão abandonada quanto o navio que bateu na ponte Rio-Niterói

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"A primeira vez que alguém entra na baía do Rio de Janeiro marca uma época na sua vida. Até o mais desanimado dos observadores, dessa data em diante, passa a prezar melhor a multíplice beleza e majestade das obras do Criador. Vi marinheiros russos, dos mais rudes e ignorantes, um aventureiro australiano imoral, incapaz de qualquer reflexão, juntamente com europeus refinados e cultos, ficarem mudos, estáticos, no passadiço, acordes na admiração da colossal avenida de montanhas e ilhas cobertas de palmeiras que, como pilastras de granito na frente do templo de Luxor, formam a digna colunata para o pórtico da mais bela baía do mundo."

São palavras de dois missionários americanos, Daniel Parish Kidder e James Cooley Fletcher, que publicaram relatos de suas viagens ao Rio no século 19.

Visão geral da ponte Rio-Niterói - Eduardo Anizelli - 5.jul.22/Folhapress

No fim do século 20, o escritor Carlos Heitor Cony fuma um charuto e aprecia a vista da baía de Guanabara que se descortina pela janela da revista Manchete. Comenta num misto de revolta e abatimento: "Conseguiram transformar essa maravilha numa cloaca". E agora num cemitério de navios-fantasmas.

Não se sabe ao certo quantos estão abandonados: o Instituto Estadual do Ambiente estima que o número passa de 80. Ecologistas falam em mais de 200, a maioria em estado deplorável, nem para sucata servem, oferecendo riscos às pessoas e ao meio ambiente. Muitos são esconderijos de piratas e traficantes. Cabe à Marinha — que parece ter outros interesses — agir para que as embarcações sejam retiradas.

Na segunda (14), o navio São Luiz, com 200 metros de comprimento e 30 de largura, que estava ancorado desde 2016, bateu contra a ponte Rio-Niterói. Gravando no celular o momento do choque, um motorista exclamou: "Caraca, bagulho doido!". Põe doido nisso. O que a gíria carioca define como "surreal" é a realidade de todos os dias. Quem está mais sucateado e à deriva: o navio ou o Rio?

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