Quando havia músicas feitas para o Carnaval, elas pegavam ou não. Algumas —vá explicar o mistério!— só estouravam em cima da hora. Foi assim com "Atire a Primeira Pedra", em 1944. Depois que a gravação de Orlando Silva começou a tocar sem parar nas rádios e ganhou a adesão dos blocos, Ataulfo Alves comentou com Mário Lago, às vésperas do Domingo Gordo: "Eu já havia desistido, parceiro, mas estamos na boca do povo".
Com os sambas de enredo acontece a mesma coisa. Não é raro que se tornem conhecidos do grande público, e cantados em delírio nas arquibancadas, somente no dia do desfile. Os que chegam consagrados à avenida são minoria. E nem sempre ajudam a escola a vencer.
Em 1992, o Sambódromo sabia de cor os versos do samba "Sonhar Não Custa Nada ou Quase Nada", mas a Mocidade Independente não levou o título. Seu autor, Paulinho Mocidade, vê a história se repetir 32 anos depois, esperando melhor sorte. "Pede Caju que Dou... Pede Caju que Dá", de Paulinho, Marcelo Adnet e outros seis compositores, ocupa hoje o primeiro lugar nas plataformas, pau a pa u com os funks e sertanejos da vida.
"Meu caju, meu cajueiro/ Pede um cheiro que eu dou/ O puro suco do fruto do meu amor/ É sensual, esse delírio febril/ A Mocidade é a cara do Brasil", diz o refrão que viralizou na voz do intérprete Zé Paulo Sierra. Pode não ser o melhor samba da safra 2024, mas é o mais folião. Divertido, sacana e tropicalista, lembra a fase vitoriosa do carnavalesco Fernando Pinto na escola de Padre Miguel. As crianças, em particular, adoram.
Inspiração do enredo, a fruta é de comprovada competência no Carnaval. Organizados por Carlinhos Niemeyer, os bailes do Caju Amigo marcaram uma época deliciosa, não menos sacana, e sobretudo alcoólica. Para afastar qualquer tipo de azar, a Mocidade tem a obrigação de convidar para o desfile um conhecido pé-quente: o craque Paulo César Caju.
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