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Stephen Hawking sobreviveu graças à qualidade da saúde pública britânica

Criado em 1948, NHS é motivo de orgulho para o Reino Unido e nenhum governo tentou acabá-lo

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Quase todos os textos publicados sobre a morte do brilhante físico britânico Stephen Hawking, na semana passada, destacaram a sua luta contra a esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo.

Os seus autores se concentraram no fato de Hawking ter vencido os prognósticos iniciais de que morreria em três anos para se transformar em um dos mais importantes cientistas contemporâneos.

Mas a imensa maioria desses textos omitiu uma outra informação de vital importância: Hawking só conseguiu sobreviver por tanto tempo graças à qualidade dos tratamentos que recebeu do serviço público de saúde do Reino Unido, o National Health Service (NHS).

O próprio Hawking admitiu isso, em vídeo gravado em agosto do ano passado. Na ocasião, ele começou dizendo que “não estaria aqui sem o NHS”. E foi direto ao ponto: “eu recebi tratamentos de alta qualidade do NHS e, sem eles, não teria sobrevivido como quis para contribuir com alguns avanços sobre o entendimento do universo”.

O melhor de tudo é que os mesmos tratamentos de saúde estão disponíveis para qualquer outra pessoa com doenças semelhantes no país. E gratuitamente.

O NHS é realmente um dos maiores motivos de orgulho do Reino Unido. Criado em 1948, logo depois da Segunda Guerra Mundial, o NHS parte do princípio de que tratamentos de saúde de qualidade devem estar disponíveis para todos, independentemente da condição social ou riqueza pessoal ou familiar.

O sistema é gratuito no ponto de entrega, as clínicas e hospitais, para todos os 64,6 milhões de cidadãos que vivem legalmente no Reino Unido. E praticamente todo mundo o usa. Tudo é financiado diretamente através dos impostos recolhidos pelo governo. Apenas alguns tratamentos dentários e oftalmológicos são cobrados dos usuários, ainda assim a preços subsidiados.

Claro, existem problemas. Há menos enfermeiras do que o necessário em alguns hospitais e, em alguns casos, filas de espera de meses para tratamentos considerados menos urgentes. Mas, mesmo assim, o sistema público de saúde britânico é de dar inveja à imensa maioria dos países do mundo.

O NHS, por exemplo, cobre todos os tipos de tratamento, de exames pré-natal até ajuda paliativa no final da vida –passando por todos os tipos de exames, cirurgias, transplantes e emergências.

O sistema está presente em praticamente todas as cidades do país e faz com que os caríssimos tratamentos privados sejam quase redundantes.

Planos de saúde existem no Reino Unido basicamente para uma pequena minoria de pessoas interessadas em evitar algumas filas mais longas para alguns tratamentos não emergenciais. Eles cobrem apenas parte dos tratamentos. As complicações e emergências acabam sendo resolvidas mesmo pelo NHS.

O sistema todo, claro, depende de grandes investimentos do governo. De qualquer forma, no Reino Unido existe uma visão majoritária de que as escolas e o sistema de saúde precisam continuar sendo públicos e democráticos. Tanto que nenhum governo, de nenhum partido, tentou acabar com o NHS desde sua criação.

O sistema público também se fortalece com a ajuda pública de pessoas importantes que se mobilizam para defendê-lo. Assim como fez Hawking. No fim de sua vida, ele se envolveu em duras discussões com o governo, exigindo ainda mais investimentos no NHS. Foi por isso que ele gravou o vídeo em defesa do serviço. Ele sabia, mais do que muita gente, a importância de um serviço público de saúde de qualidade para a sociedade.

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