Passados menos de seis meses da primeira morte de um brasileiro pelo novo coronavírus, em São Paulo no dia 12 de março, chegamos à casa das 120 mil vidas perdidas e seguimos contando vítimas. O desempenho sanitário no enfrentamento à Covid-19 pode levar alguns a pensar que foram feitas escolhas que não priorizam a busca obstinada por salvar vidas, tarefa que, frente a uma doença tão traiçoeira, exige muito trabalho, coesão social e planejamento.
Na ausência de ações coordenadas, o número de casos já ultrapassa a marca dos 3,7 milhões de brasileiros infectados. Apesar da lamentável posição de liderança às avessas ocupada pelo Brasil no ranking mundial da evolução da doença, medidas de distanciamento foram sendo relaxadas e o comércio voltou ao ritmo do “velho normal” na metade das grandes cidades.
Com bares lotados, academias e salões de beleza funcionando, celebrações religiosas retomadas e aglomerações no transporte público, a velocidade de contágio do novo coronavírus voltou a crescer, como apontam dados do Imperial College London, instituição que é referência em acompanhamento de pandemias.
Embora seja fruto legítimo da apreensão em torno do desempenho econômico, o relaxamento a contrario sensu produz efeitos que tingem a população brasileira de maneira bastante desigual. Como é sabido, o novo coronavírus perversamente afeta a população mais vulnerável em maior grau de letalidade. Dessa forma, negros, idosos, população periférica de baixa renda e quem tem histórico de comorbidades, especialmente os problemas cardíacos, compõem o rol das vítimas fatais preferenciais da doença por aqui.
Adeptos de teorias da conspiração podem até devanear que o novo coronavírus está equipado com algum dispositivo de seleção étnica, econômica e social. Mas uma coisa é certa: as circunstâncias atuais são fator de decisão sobre quem tem mais chances de sobreviver ao vírus no Brasil.
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