Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Quantas mulheres negras como Carolina de Jesus têm seu talento negligenciado?

Quem sabe a valorização delas contribua para a promoção da igualdade neste país tão desigual

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A busca por igualdade, este princípio Constitucional tão importante quanto desrespeitado no Brasil, não pode ser vista como algo homogêneo entre as mulheres. Há uma espécie de desigualdade cumulativa que assola o universo das mulheres negras ao agregar o componente da “cor” a todos os indicadores sociais, econômicos e culturais.

Partindo da ideia de que pensar em igualdade implica colocar no centro do debate quem mais necessita, parece inevitável lembrar da mulher negra considerando que essa combinação de gênero e raça está presente em todos os indicadores sociais negativos. Mulheres negras ganham menos e são a maioria entre as vítimas de feminicídio, por exemplo.

Em fevereiro, uma das primeiras autoras negras publicadas no Brasil conquistou, post mortem, um feito a ser comemorado. Por aclamação e à unanimidade, a escritora, compositora e poetisa Carolina Maria de Jesus, da extinta favela do Canindé, em SP, recebeu do Conselho Universitário da UFRJ o título de Doutora Honoris Causa.

Escritora Carolina Maria de Jesus
Escritora Carolina Maria de Jesus - Arquivo público do estado de São Paulo

A homenagem acadêmica serve de reparação a quem teve a obra publicada em mais de 40 países, mas morreu na miséria e sem reconhecimento nacional. Pela cabeça de quem não leu Carolina talvez jamais tenha passado a ideia de que a expressão “amarelo de fome” seja literal. Porque, segundo a autora, a fome tem cor. E ela é amarela.

Quantas serão as Carolinas lutando pela sobrevivência em nossas ruas neste momento de pandemia e de desemprego recorde? Para além da crise, é de se pensar quantas mulheres negras tiveram ou têm seu talento negligenciado ou desprezado no país.

Que a honraria póstuma a Carolina Maria de Jesus sirva para promover essa reflexão e para impulsionar a aplicação da lei 10.639, fazendo com que sua obra passe a integrar os currículos escolares. Quem sabe assim o Brasil comece a conhecer um pouco mais sobre a sua própria realidade. Talvez isso contribua para a promoção da igualdade neste país tão desigual.

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