Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Descrição de chapéu inflação juros

Um retrato do atraso

O Brasil, apesar de suas múltiplas facetas, é um só

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Nos últimos dias, uma sequência de fatos fez com que eu revisse um ponto de vista manifestado recentemente neste espaço. O Brasil, apesar de suas múltiplas facetas, é um só. As imagens degradantes de homens e mulheres famélicos enfileirados à espera de um caminhão trazendo ossos e restos de carne e cartilagem me fizeram enxergar na elite brasileira o retrato do nosso atraso.

Caminhão com ossos e restos de carne é disputado no Rio de Janeiro - Domingos Peixoto - 28.set.21/Agência O Globo

Sem a imensa massa de brasileiros —pretos ou não— mantida na pobreza, explorada como mão de obra barata, o modelo de crescimento implantado desde o momento em que a primeira nau aportou por aqui há mais de 500 anos, dando início ao sistema socioeconômico cruel e desigual em vigor até a atualidade, não seria possível.

A ideia da multiplicidade do Brasil não é nenhuma novidade. Surgiu em meados do século passado quando o sociólogo francês Jacques Lambert —que veio ao país com a missão de docentes que ajudou a criar a USP— publicou o clássico livro “Os Dois Brasis” no qual retrata o convívio da extrema pobreza com a opulência e modernidade em território nacional. Anos mais tarde a tese inspirou a criação da expressão “Belíndia”, cunhada pelo economista Edmar Bacha para denominar o Brasil como um misto de Bélgica e Índia, desenvolvido e pobre ao mesmo tempo.

Porém, como observado com sagacidade pelo jornalista Carlos Müller, o sociólogo Francisco de Oliveira desconstruiu essas visões nos ensaios “Crítica à Razão Dualista” e “O Ornitorrinco”. Neles, Oliveira evidenciou que a aparente dualidade do país moderno e cosmopolita versus país atrasado é, na verdade, o que faz o Brasil ser uno.

Tudo porque o moderno nunca foi moderno e desenvolvido de fato em razão de a nação brasileira ser o que é por ter explorado e submetido a maioria da população ao atraso. A elite de hoje é a mesma que, direta ou indiretamente, sempre atuou de maneira gananciosa contra o fim da pobreza por não querer abrir mão de nenhum dos privilégios que desfruta.

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