Minha semana terminou com um sabor amargo de derrota para o Brasil —e não tem nada a ver com o placar do jogo da seleção canarinho, que perdeu de 1 x 0 para Camarões na terceira partida da Copa do Mundo de futebol.
O gosto acre veio do aparente caos em que se encontra a gestão pública federal, somado à divulgação dos vexatórios e degradantes recordes brasileiros nos níveis da pobreza e da extrema pobreza em 2021 —quase 30% da população (o que equivale a 62,5 milhões de pessoas), segundo o IBGE.
Numa sociedade mesquinha a ponto de sacrificar a maioria do povo por séculos para manter os privilégios de alguns, não é de hoje que se negligencia o fato de as desigualdades funcionarem como freio para o progresso. Tanto que a imobilidade social se tornou lugar comum por estas bandas.
Chegamos ao ponto de não haver perspectivas de futuro promissor para quase metade das nossas crianças. São mais de 20 milhões de menores sem condições mínimas para um desenvolvimento físico, social e emocional adequado, relegados à própria sorte numa fase determinante da vida como é a infância.
Não é evidente a extensão do dano causado pela perpetuação dessa tragédia social?
E a análise dos indicadores por cor ou raça deixa cristalino o que qualquer um no gozo das faculdades mentais deveria ser capaz de perceber: negros enfrentam mais dificuldade. O percentual de pessoas em situação de pobreza é o dobro entre pretos e pardos.
Em sua recente passagem pelo Brasil, a ativista dos direitos humanos e do antirracismo Graça Machel —ex-ministra da Educação e ex-primeira-dama da África do Sul— fez uma observação certeira sobre a desvalorização do nosso capital humano: "Se metade da população está marginalizada, significa que o país tem metade da capacidade intelectual, da capacidade criativa e da capacidade de inovação adormecida".
Até quando vamos manter o desperdício de talentos como uma especialidade da casa?
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