Enquanto o Brasil não estiver disposto a assumir e a enfrentar a questão racial como ponto central de suas mazelas, será difícil reduzir as desigualdades.
Em Brasília, teve início o julgamento sobre a validade de prova obtida em abordagem policial baseada na cor da pele. Diante dos altos índices de violência policial contra pretos e pardos, numa nação majoritariamente autodeclarada negra, era de se esperar que o país parasse para acompanhar.
Porém, para isso, a população negra teria de ter instrução, tranquilidade e condições de se dar ao luxo de atentar para questões que impactam sua vida e pressionar, ao invés de manter-se num permanente corre-corre para sobreviver.
E, numa sociedade ainda calcada em primados escravocratas que estigmatizam os afrodescendentes e geraram distorções em favor da branquitude, pode acontecer de tudo. Desde polícias estruturadas para tratar os negros com "distinção" até a esdrúxula conceituação de racismo reverso.
É o tipo de coisa que leva uma mulher branca, ocupando cargo público de poder, ao absurdo de concluir que "racismo não é um privilégio" no Brasil. Por óbvio, nem aqui, nem em lugar nenhum do planeta, posto que a prática faz de determinado grupo de pessoas alvo de opressão sistemática.
Difícil pensar em forma de desvantagem mais evidente. O racismo é praticamente uma presunção de culpa em muitos casos, sobretudo quando envolve a polícia. Quem é negro sabe. Quem não é já deveria ter descoberto.
Mas somos também uma sociedade conservadora e hipócrita, que até hoje se vale descaradamente de trabalho em condições indignas e sob restrição de liberdade...
Contudo não é por ter a pele negra que alguém deve ser abordado pela polícia.
Parar a engrenagem que faz dos negros reféns e vítimas preferenciais da hostilidade, do abuso de autoridade e da truculência policial fundada no preconceito é, além de tardio, fundamental.
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