Ana Fontes

É empreendedora social e fundadora da RME (Rede Mulher Empreendedora). Vice-presidente do Conselho do Pacto Global da ONU Brasil e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ana Fontes
Descrição de chapéu Todas machismo

Por que os nãos ditos pelas mulheres não são aceitos?

Percebo que, para muitas de nós, o 'não', ao contrário dos homens, é interpretado como arrogância e prepotência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Por que os nãos ditos pelas mulheres, em qualquer circunstância, não são aceitos? Como um advérbio de três letrinhas é tão desafiador de ser dito para nós, mulheres. O não em uma tarefa que não é sua implica em você ser rotulada como chata; o não em uma cantada implica em você ser considerada "mal amada"; o eu não posso, implica em você não ser capaz. O nosso não, seja qual for o destino dele, não é devidamente respeitado.

Adesivos na cor lilás com a frase "não é não"
Adesivos de campanha contra assédio distribuídos em blocos no Carnaval do Rio de Janeiro - Laura Martins/Folhapress

Ensinadas a ser passivas, complacentes, agradáveis ou preocupadas com o bem-estar dos outros, dizer não é um desafio gigante para mim, e imagino que também o seja para você. No entanto, venho trabalhando nisso. Recentemente, li um texto sobre a "síndrome da mulher boazinha", que basicamente é: a mulher coloca as necessidades dos outros acima das suas, na maioria das vezes, em detrimento de suas próprias necessidades, vontades e desejos. Isso está relacionado à nossa dificuldade em dizer não e à constante busca pela aprovação dos outros. Se identificou? Eu mais do que gostaria.

A verdade é que o "não" não nos foi concedido. A gente o utiliza e lida com as consequências depois. Aceitar mais demandas, projetos e reuniões fez com que eu me afastasse mais da minha família, ficasse um pouco mais estressada e consideravelmente mais cansada. Percebo que, para muitas de nós, o "não", ao contrário dos homens, é interpretado como arrogância e prepotência. Na maternidade, o ato de dizer "não" nos transforma na mãe chata; no âmbito empresarial, somos vistas como chefes megeras; e em um romance, passamos a ser encaradas como alguém que está "fazendo doce".

Além de empregar muitos adjetivos injustos, o "não" da mulher não é levado a sério. Quantos casos são noticiados de feminicídio de homens que não aceitam o fim do relacionamento? Ou daqueles que forçam situações porque não compreendem que o não é não? Hoje, exercito, recusando propostas que não se encaixam no meu dia ou simplesmente porque não estou afim. Dizer "não" sem muitas explicações é uma maneira poderosa de afirmar meu espaço e respeitar meus limites. Afinal, não é não!

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.