É crítico da Folha e autor de cinco livros, entre eles "Pavões Misteriosos - 1974-1983: a explosão da música pop no Brasil" (Editora Três Estrelas). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Orgia no balcão
Tem certas noites em que, por uma combinação de boa comida, bom ambiente e boa companhia, você manda o comedimento às favas e come bem mais que deve, bebe mais que o recomendável e fala pelos cotovelos.
Passei por um desses momentos de felicidade em recente visita ao Minato Izakaya, o boteco japonês da rua dos Pinheiros, caso raro de hype gastronômico paulistano que supera as expectativas, de longe.
O Izakaya é pequeno. São dois balcões, com dez lugares em cada. Chegue depois de 20h e você certamente terá de esperar. Mas esperar, no Minato, não é das tarefas mais desagradáveis, especialmente tomando um saquê e batendo papo com o sushiman Sergio Kubo (ex-Hideki), que deu dicas das melhores pedidas da noite. E foram muitas.
O que recordo: começamos com pequenas porções de berinjela marinada e da inacreditável moelinha com cebola-roxa. Depois, veio um pratinho viciante, a pimenta-cambuci recheada com anchova. Seguiram-se porções deliciosas de barriga de porco, língua de boi na chapa, berinjela, ovas de tainha fatiadas, mandioca frita na manteiga, guioza no vapor e nirá refogado.
Aí chegaram os frios: cortes caprichados de sashimi, com destaque para a cavalinha marinada, e algumas excelentes seleções de sushi, além de shots de uni (ovas de ouriço do mar) com gema de ovo de codorna. Para rebater, uma densa e perfumada sopa de cabeça de peixe com nabo.
Uma das várias surpresas da noite ocorreu quando um dos donos, Fabio Koyama (ex-Aoyama) sugeriu um prato quente de lagostins cozidos que deixou todos os outros clientes da casa com inveja. "Traz um igualzinho pra nós", disse um grupo sentado à nossa frente. Para infelicidade deles, eram os últimos lagostins. Foi mal, amigos.
Quando já havíamos dado a noite por encerrada, depois de mais de quatro horas de banquete, Koyama trouxe um robalo cozido com ameixa japonesa, que foi devorado. E o simpático dono ainda distribuiu saquê para os clientes e puxou um "kampai!" coletivo. Que noite...
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