Angelo Ishi

Angelo Ishi é jornalista, sociólogo e professor titular da Musashi University em Tóquio, onde reside desde 1993.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Tatuagem com ideogramas de Daniel Cargnin gera mídia positiva no Japão

Comentários variam de 'deve ser uma pessoa que preza a família' a 'com certeza é um cara legal!'

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A enxurrada de medalhas que os japoneses estão conquistando nestes Jogos (até a noite de quarta no Japão, eles estão no topo do ranking de medalhas de ouro, com 13, contra 12 da China e 11 dos EUA) não é suficiente para abafar um outro recorde, este indesejado: foram registrados 3.177 casos de Covid-19 em 24 horas em Tóquio.

É o maior número de casos desde o início da pandemia. As palavras mais proferidas pelos medalhistas japoneses são de gratidão por terem permitido realizar as Olimpíadas, mesmo sob estado de emergência.

E há quem diga que o combustível para o espetacular desempenho dos atletas japoneses é a vontade de retribuir com uma medalha uma “dívida moral” assumida perante a população.

Previsivelmente, a mídia japonesa quase nem menciona os medalhistas brasileiros. Mesmo no noticiário sobre o skate, só saem fotos e imagens das japonesas que ganharam ouro e bronze –ignorando a prata de Rayssa Leal, a “fadinha do skate”.

Não é à toa que os críticos alertam para o efeito colateral das Olimpíadas como catalisadoras de um nacionalismo míope. A miopia é exacerbada por uma limitação estrutural na grade de programação das TVs: devido ao número de modalidades disputadas simultaneamente, elas só exibem as que os atletas nacionais têm chance de medalha.

De maneira inusitada, ao menos um brasileiro bombou nas redes sociais japonesas e conquistou muitos fãs: Daniel Cargnin, medalha de bronze no judô. Os japoneses simpatizaram com a tatuagem no peito de dois kanji (ideogramas) que formam a palavra “kazoku” (família).

O judoca Daniel Cargnin com quimono aberto e tatuagem no peito
O judoca Daniel Cargnin - Instagram/dadscargnin

Os comentários variam de “deve ser uma pessoa que preza a família” a “com certeza é um cara legal!”.

Alguém que pratica jiu-jitsu comenta que já lutou com um oponente que tinha tatuado “kazokuai” (amor à família). Vários comentam que os estrangeiros costumam tatuar palavras absurdas, sem entender o seu significado (um atleta americano teria tatuado “máquina de lavar roupa”).

E alguém rebate que Daniel com certeza sabe o significado do que tatuou, pois “os brasileiros são um povo que dá muita importância à família”. Há também quem lamente que os judocas japoneses não possam aderir à tatuagem, devido à imagem negativa ligada aos yakuza (máfia).

Se, por um lado, todos têm algum pitaco sobre o sucesso dos atletas nacionais, por outro a mídia não se cansa de procurar explicações para o mau desempenho dos atletas que perderam medalhas dadas como certas.

O maior choque da população local, mais do que a eliminação de Naomi Osaka, foi a queda do ginasta Kohei Uchimura (ouro na Rio 2016) já na primeira fase. Para mim, a teoria que fez mais sentido foi dada pelo analista Kengo Abe, no diário esportivo Nikkan Sports.

Ele defende que a ausência de público vem desequilibrando não só Uchimura, mas outros atletas veteranos de Olimpíadas: “Uchimura perdeu o foco porque ele se sentia mais confortável nos ginásios lotados e barulhentos, não no silêncio da imensidão vazia”.

Segundo ele, os atletas estreantes não têm um parâmetro de comparação nem um “pré-conceito” sobre o ambiente olímpico, portanto sentem menos estranheza com essa situação insólita. Seria esse o segredo do ginasta Daiki Hashimoto, de 19 anos, que ganhou o 13º ouro do Japão?

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