Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Antonio Delfim Netto
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Taxa de câmbio

Resultado de política do BC explica parte do recente movimento do câmbio

O equilíbrio do sistema econômico, incorporado porosamente a qualquer sociedade que tenha como objetivos a plena liberdade individual e a mitigação das diferenças de qualquer natureza entre os cidadãos, depende de duas condições:

1. de um adequado regime fiscal que garanta a solvência interna por meio de uma relação dívida pública/PIB (Produto Interno Bruto) estável e que deixe espaço para políticas fiscais compensatórias em caso de redução da demanda;

2. do bom funcionamento de mercados que estabeleçam três preços fundamentais (o salário real, a taxa de juro real e a taxa de câmbio real) para obter, simultaneamente, três objetivos. 

São esses objetivos (a) o pleno emprego da mão de obra que pode e quer trabalhar, (b) uma taxa de inflação relativamente estável parecida com a dos concorrentes internacionais e (c) um equilíbrio das contas externas que garanta a solvência do país.

Quando um dos preços é alterado por efeito da política econômica, por exemplo, uma política de renda (controle salarial e de preços) ou o controle do câmbio, é preciso intervir nos outros para não comprometer os objetivos.

Numa economia aberta com pleno movimento de capitais, a taxa de câmbio só é o preço que equilibra o valor do fluxo da exportação com o valor do fluxo da importação em uma unidade de tempo quando a taxa de juro externa somada ao risco país é igual à taxa de juros interna. 

Quando essa igualdade não é satisfeita, a taxa de câmbio assume o papel de um ativo financeiro sujeito à manipulação dos capitais que vêm explorar a diferença (o “carry trade”). Ela perde, portanto, a sua ligação com o setor real da economia.

Na concepção do fundamentalismo mercadista, o ajuste interno é instantâneo, logo não há problema. No mundo real, pode levar anos, com alto custo social, antes que a taxa de câmbio volte a cumprir seu papel original. Durante eles, a taxa de câmbio não terá nada a ver com a atividade real interna. 

Foi assim que o controle cambial, sustentado pela maior taxa de juro do mundo durante 30 anos, acabou com a indústria nacional e transformou o Brasil numa colônia da China.

Uma das contribuições do governo Michel Temer, por meio da política do Banco Central, foi reduzir aquela diferença: a taxa externa mais o risco Brasil é agora mais parecida com a taxa interna. Isso explica parte do recente movimento do câmbio que caminha para seu equilíbrio. 

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, mostrou que sua artilharia é para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio, mas insiste na condição para a livre flutuação.

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