Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Se todo mundo ficasse quietinho, obedecendo cegamente, o PIB ia crescer

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Na última quinta-feira a Secom (Secretaria da Embromação Comunicativa Miliciana) postou nas redes um anúncio curioso. Separando o “PIB público” (-2,25%) do “PIB privado” (+2,75%), comemorava o resultado: “O Brasil agora cresce de verdade”.

A extrema imprensa, os comunistas, o Foro de São Paulo, o Leonardo DiCaprio, os quilombolas de sete arrobas, a mulher feia daquele presidente lá da França —tá OK?— e a mamadeira de piroca chiaram afirmando que tal separação seria “PIBplanismo”, mas todo homem sabe que em privado, mais à vontade, o PIB sempre cresce mais do que diante dos constrangimentos públicos.

Quem nunca teve vontade de, ao sair de sunga do mar gelado, estampar no peito um post como o da Secom? 

“Em privado, pessoal, depois de um banho quente e de uma secada vigorosa das mãos invisíveis do mercado, ele cresce na base de uns dois dígitos.” Eu, patriota que sou, deixo aqui para o governo algumas sugestões de posicionamento diante da brochada (fake news!) de 2019.

1 – Num primeiro ano de governo é normal o PIB não crescer. Há muita expectativa. Tá todo mundo nervoso. Além do mais porque durante as eleições —o flerte— prometeu-se PIBão com ininterrupto viés de alta —e meus congêneres sabem que nada atrapalha mais o desempenho do PIB do que a obrigação do crescimento.

No segundo e no terceiro ano, governo e sociedade já terão se conhecido melhor, saído pra jantar, pra dançar, tomarão um chope ou uma taça de vinho e o PIB crescerá com mais naturalidade. (O governo nem terá de lançar mão de estratagemas como a liberação do FGTS. Lançar a mão, quando o PIB não reage, pode até aplacar a ânsia imediata da sociedade, mas, pra tapar o buraco da carestia, de verdade, só mesmo um bom produto interno).

Ilustração de objeto em estilo antigo
Adams Carvalho/Folhapress

2 – Outra boa desculpa e que ainda coaduna muito bem com o discurso do governo é botar a culpa do PIBinho na mulher —no caso, a Dilma. Os inimigos da pátria podem alegar que a Dilma foi há duas relações. Que depois dela veio o Temer e só então o Bolsonaro. Que por pior que tenha sido o relacionamento com ela (e quem há de negar?), já era para a termos superado. O governo deve insistir, porém, que a relação foi por demais traumática e que toda vez que o PIB volta a crescer ele lembra da Dilma, do discurso da mandioca e... Bem, acaba estocando vento.

3 – O PIB não cresce porque a indústria não se mexe. Não adianta nada a indústria ficar lá, deitada, paradona, inerte, querendo que o PIB cresça. A indústria tem que ajudar. Abraçar o governo. Agarrar sua pauta.

Só assim o PIB cresce.

4 – O contrário também pode ser usado: o PIB não cresce porque a sociedade tá partindo pra cima. O congresso. O STF. A imprensa. Os artistas. Até o MBL! Isso deixa o governo acuado. O PIB se retrai. Se todo mundo ficasse bem quietinho, de costas, obedecendo cegamente, o PIB ia crescer sem constrangimentos.

5 – Se nada disso colar, resta ao governo uma última arma, um conceito econômico criado pela escola austríaca —de psicanálise: a DR. “Não são vocês, sou eu. Sei lá, acho que o PIB não cresce porque a gente tá brigando, a gente não tá, tipo, transando. Eu, governo, vejo a sociedade como inimiga, vejo as instituições como inimigas, até dos meus generais eu tenho medo. Eu só acredito no Carluxo. Mas o Carluxo não acredita em mim. Ele diz que eu tenho que bater o PIB na mesa. Mas como vou bater na mesa um PIBinho desses? Sei lá... E se a gente parasse um pouco e assistisse a uma série no Netflix? ‘Sex Education’.

Diz que é ótima. Pode ser?”.

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