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O que é PIB?

Bolsonaro deveria saber que número fraco da economia significa país empobrecido

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O presidente Jair Bolsonaro ao lado do humorista recrutado para personificá-lo - Jair Bolsonaro no Twitter

O presidente Jair Bolsonaro preferiu mergulhar na desfaçatez a responder sobre o frágil desempenho da economia em seu primeiro ano de governo, esmiuçado em números divulgados nesta quarta (4).

“PIB? O que é PIB? Pergunta o que é PIB”, recomendou Bolsonaro a um humorista profissional recrutado para personificá-lo diante de jornalistas, em mais uma de suas exibições para a claque reunida em frente ao Palácio da Alvorada.

Em termos simples, o Produto Interno Bruto (PIB) é a renda do país —gerada a partir dos bens e serviços produzidos. Essa renda cresceu apenas 1,1% em 2019, no terceiro ano consecutivo de recuperação frustrada após a brutal recessão de 2014-16.

Isso significa que os brasileiros permanecem mais pobres do que no final da década passada. Em um país de extrema desigualdade social, os estratos mais carentes sofrem as piores consequências.

O crescimento econômico —vale dizer, do PIB— continua aquém do necessário para fazer diferença marcante nos indicadores sociais. Os decepcionantes resultados do final do ano passado, agora consolidados, já haviam contribuído para turvar o modesto otimismo que se ensaiava para este 2020.

A renda gerada no quarto trimestre ficou 3,1% abaixo do patamar pré-recessão, o que evidencia a recuperação mais lenta já medida no país desde o século passado.

Até se notou alguma robustez no consumo das famílias, novamente o motor principal da economia, com alta de 0,5% em outubro-dezembro e 1,8% em todo o ano. É pouco, porém, para compensar debilidades mais amplas.

Embora tenha fechado o ano com alta de 2,2%, os investimentos caíram 3,3% no último trimestre, em razão do declínio da demanda por máquinas e equipamentos e também da construção civil. Renovam-se, assim, as dúvidas quanto ao ânimo dos empresários em buscar o aumento da produção.

Infelizmente, a situação já piorou desde então. O mais recente entrave à retomada é o coronavírus, que terá forte impacto negativo na atividade global, conforme já observado na China. Tudo considerado, vai se tornando menos provável que a economia brasileira possa crescer além de 2%.

Com ventos menos favoráveis no mundo e as persistentes incertezas domésticas, para as quais Bolsonaro decerto contribui, as projeções já se aproximam de 1,5%, e há risco de redução ainda maior. 

Entende-se assim a reação do Banco Central, que já indicou que fará novos cortes em sua taxa de juros, num movimento que segue os de outros países. Pela primeira vez desde a crise financeira de 2008, o americano Fed baixou os juros fora de seu calendário normal de reuniões, num indicativo da gravidade do momento. 

Tais medidas, porém, não passam de paliativos, incapazes de fomentar uma expansão mais sólida da economia. Bolsonaro faria bem em aprender o que é PIB —e melhor ainda em assumir as responsabilidades do cargo e empenhar-se politicamente na agenda de reformas destinadas a ampliar o potencial de crescimento do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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