Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino
Descrição de chapéu Coronavírus

Outra onda de casos se aproxima e ainda contamos com a sorte

No interior do país ainda temos índices muito baixos de vacinação

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Ainda estamos no período de incerteza sobre a variante ômicron, vendo seu espalhamento fulminante, enquanto vários fatores mascaram a seriedade da onda de casos que varre o mundo.

O mais preocupante é sua velocidade. Na África do Sul, a ômicron levou menos de três semanas para causar uma subida de casos pior do que a delta, a variante mais transmissível que já havíamos visto, causou em três meses. No Reino Unido, no começo de dezembro, se calculava que a ômicron se tornaria a linhagem dominante até janeiro. Uma semana depois, ela já causou a primeira morte e deve causar a maioria das infecções em Londres a partir desta quarta-feira (15). E dada a progressão da doença, os casos só devem começar a refletir em hospitalizações de ingleses no final de dezembro.

Seu crescimento na Dinamarca, na Noruega e na Alemanha tem sido tão rápido quanto ou mais rápido do que no começo de 2020, antes de termos medidas de distanciamento, máscaras e vacinas. Estamos vendo o raio, mas ainda não ouvimos o trovão que ela deve causar.

Profissional da saúde faz exame para detectar Covid em residente do Rio de Janeiro - Mauro Pimentel - 10.dez.2021/AFP

Outro fator complicador é que os primeiros casos foram mais concentrados entre os sul-africanos mais jovens, como crianças, que por serem menos vulneráveis à Covid não geram muitas hospitalizações. Além disso, a ômicron consegue ser transmitida entre curados e vacinados de maneira inédita. Ela tem causado até oito vezes mais casos de reinfecção no Reino Unido. E, de acordo com os últimos dados da África do Sul, parece ter reduzido a proteção de duas doses da vacina de RNA da Pfizer contra a infecção pelo vírus para 30% e contra a hospitalização para 70%. Ou seja, muitos vacinados e curados estão sendo infectados, mas uma parte menor deles precisa de hospitalização, graças à imunidade parcial. Como resultado, esta onda de ômicron tem gerado 30% menos internações por caso do que a onda anterior, da delta, causou na África do Sul.

Aqui no Brasil, onde o índice de vacinação está alto, podemos esperar uma redução ainda maior de internações. Mas contar com isso é contar com a sorte. No interior do país ainda temos índices muito baixos de vacinação. Em Rondônia e no Pará já começam a faltar leitos de UTI para Covid novamente, provavelmente por conta da delta ainda. E mesmo onde a proporção de hospitalizações for menor, se a onda de casos for enorme, ainda serão muitos doentes precisando de leitos. Leitos desmontados que serão operados por profissionais exaustos e traumatizados. Por isso, precisamos de uma campanha massiva pela vacinação dos brasileiros faltantes e pela adoção da dose de reforço, que já se mostrou restaurar grande parte da proteção contra a ômicron, mas ainda tem baixa adesão.

Na direção oposta, ao invés de uma organização pró-vacinação e uma conscientização da onda que devemos enfrentar, vemos preparativos para eventos com aglomerações, em clima de "já passou". E boa sorte para acompanhar nossa situação via Ministério da Saúde. Os informes diários sobre a pandemia destacam os milhões de "recuperados", desviando a atenção dos mais de 600 mil que não se recuperaram. E o painel de casos de Covid está fora do ar. Foi derrubado pelos "hackers" que "sequestraram" os dados do Ministério, apagando os dados com login e senha, sem pedir resgate, ao mesmo tempo em que tiraram do ar os certificados de vacinação às vésperas das novas medidas que exigiriam o passaporte vacinal. Uma medida que comprovadamente aumentou a vacinação onde foi adotada.

Temos mais um mês para nos prepararmos para enfrentar a ômicron e o ministro da Saúde está mais preocupado em preservar a liberdade de quem não quer se vacinar do que nossas vidas.

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