Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino

Vacinas que podem nos tirar da pandemia

O spray dispensa agulhas, é mais barato e ainda pode ser mais bem aceito

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Estamos em outra onda. A taxa de testes de Covid positivos já se compara à da onda de janeiro. Duas ondas movidas por variantes com escape imune suficiente para serem muito transmitidas. Felizmente, hospitalizações e mortes ainda não chegam perto dos números do começo do ano. Mas já registramos mais de 54 mil vidas perdidas para a Covid em 2022. Em 2020, as mortes por doenças virais como dengue, febre amarela e HIV somaram menos de 14 mil, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Com o abandono precoce das máscaras, a vacinação virou a única barreira contra o vírus. Dada nossa situação atual, sem nem uma estratégia federal de combate à Covid, parece utópico dizer que temos condições de ver números muito melhores daqui em diante. Mas ainda podemos ter uma posição central no desenvolvimento e teste de vacinas com potencial de controlar muito mais a doença, como vacinas de RNA, de spray nasal e vacinas universais.

Já aplicamos mais de 1 bilhão de doses de vacinas de RNA pelo mundo. Elas têm excelente perfil de segurança e proteção. O risco de miocardite em vacinados é raro, tende a se resolver em dias e é muito menor do que entre quem tem ​Covid. Das vacinas em uso, são as mais "atualizáveis" para contornar o escape imune. Como usam um trecho do material genético do vírus, ele pode ser revisto para representar novas variantes.

Enfermeira aplica vacina da Covid em braço de paciente
Mais de 1 bilhão de doses de vacinas de RNA contra a Covid já foram aplicadas mundo afora - Bruno Santos - 6.jul.22/Folhapress

São as vacinas de RNA que estão em estágio mais adiantado de testes com doses específicas para a ômicron. Mas esses testes não têm sido rápidos o suficiente. Os testes mais avançados foram feitos com a variante ômicron de janeiro e a linhagem BA.5 em circulação agora já escapa parcialmente delas.

Precisaríamos encurtar o tempo entre observar o vírus e vacinar para alguns meses. E o Brasil tem infraestrutura e mão de obra qualificada para participar disso, como Chile e Israel fazem.

As vacinas de spray nasal podem ser baseadas em várias estratégias, como o RNA. O importante é o local de aplicação. A aplicação intranasal desperta anticorpos e a ativação de células imunes da mucosa nasal, região que o coronavírus coloniza primeiro. Essa imunidade localizada pode barrar a entrada do vírus no corpo. Assim, vacinados nem transmitiriam o vírus.

O spray dispensa agulhas, é mais barato e ainda pode ser mais bem aceito, especialmente para doses regulares. Nossos centros de pesquisa têm condições de desenvolver e produzir esse tipo de vacina, o que é especialmente interessante para o suprimento constante de doses renovadas.

Já as vacinas mais universais são o Santo Graal para doenças como a Covid e a gripe. Idealmente, seriam feitas com base em regiões conservadas e importantes que o vírus não pode mudar com facilidade, o que tem o potencial de induzir uma imunidade eficaz contra os vírus atuais e futuros. Seriam vacinas que nos protegem até contra outros coronavírus que não conhecemos e poderiam ter evitado a Covid como um todo se já estivessem disponíveis.

Essa seria a barreira definitiva e todo país com pesquisa em saúde pública como o Brasil deveria se mobilizar para viabilizá-la. Isso se o governo federal estivesse interessado em usar nossa infraestrutura e expertise para realmente promover a vacinação e salvar vidas. Os índices baixos de vacinação infantil e o corte absurdo de verba da ciência mostram que não é o caso.

Sair da pandemia depende de atitudes coletivas e da ciência. E é um caminho que ainda deve levar anos. Por isso, o voto que faremos logo deve levar isso em conta. Voltar a valorizar e investir na ciência no Brasil seria um dos passos para que nosso novo normal seja mais normal ainda.

Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência.

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