Mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal.
Prefere que eu desenhe?
Não é incomum que as bobagens cometidas só consigam ser identificadas como erros a posteriori. A priori ninguém vê nada. Mas, depois que acontece, como teria sido fácil evitar!
Atrevo-me a comentar a severa mensagem do leitor João de Deus S. Silva, publicada no Painel do Leitor da Folha de ontem. O escândalo da Petrobras trouxe à tona a velha história de que a morte prematura de Paulo Francis teria sido causada pelo processo imputado contra o jornalista pelo ex-presidente da Petrobras Joel Rennó, por causa de uma afirmação não substanciada feita pelo polêmico cronista no programa "Manhattan Connection".
Diz o leitor que não foi o processo indenizatório no valor de US$ 100 milhões o causador da ruína de Francis. O que o matou teria sido sua "leviandade".
Contesto, meritíssimo. Quem meteu os pés pelas mãos foi a edição do programa. E o próprio Lucas Mendes, criador, âncora e responsável pelo corte final, íntimo amigo do jornalista, concorda. No documentário "Caro Francis", ele admite que deveria ter cortado a parte em que Francis acusava a direção da Petrobras de ser uma "quadrilha".
Não o fez porque reassegurou-se no ar perguntando: "Sua fonte é segura?" e ouviu um sim. Mas isso não importa. O que vem ao caso é que o "Manhattan Connection" é gravado. E gente polêmica como Francis pode se soltar à vontade, porque sabe que tudo o que disser "a mais" será eliminado na cabine de edição.
Pense: seria uma burrice o apresentador de "talk show" ficar tendo retenção anal diante das câmeras se é possível cortar o excesso depois, não?
Assim sendo, toda a sequência sobre a Petrobras foi apenas mais um dia no estúdio. Ele deve ter pensado: "Se acharem que foi over, eliminam e pronto". Afinal, o camarada já tinha cantado música de "E o Vento Levou...", imitado Fred Astaire... Sabe como é, a gente vai se deixando levar.
Mas o leitor que o massacrou no Painel de ontem provavelmente não vê assim. Deve pensar que cada um arca com suas próprias consequências. O que ele fez foi grave, deveria ter mais juízo. Eu entendo.
O mais irônico é que o sr. João de Deus S. Silva usou o exemplo da briga com Caio Túlio Costa, ex-ombudsman da Folha, e a saída de Francis do jornal para ilustrar sua decadência profissional.
Não precisei consultar o Caio, a quem tenho como mentor e amigo querido há 30 anos, para saber do desconforto que lhe traz ver seu nome usado até hoje para desacreditar Paulo Francis. Ao contrário do que o senhor pensa, sr. João, o Caio Túlio amava profundamente o Paulo Francis. Aliás, ama e respeita até hoje. E o Francis, a quem o senhor tanto desdenha, tinha sentimentos recíprocos. Durma-se com um barulho destes.
Quanto a sua mensagem, que o senhor deve considerar tão nobre, eu já acho que ela faz o jogo do inimigo. Pense em Shigeake Ueki, Joel Rennó, Sérgio Gabrielli, Eike Batista. Tanta gente boa que andou pela Petrobras, tantos contratos impolutos...
As melhores histórias que sei, que o Caio Túlio sabe, que o Francis sabia, que o Ruy Castro sabe (foi o Ruy quem me apresentou ao Caio e também ao Francis, veja que mundo redondo), nós nunca poderemos contar. Porque elas esbarram nos limites da lei, provando que, sim, existe liberdade de expressão respaldada por direitos como respeito à privacidade. Muitas vezes, com compreensão de menos do papel da imprensa numa democracia. Como parece ser o seu caso.
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