Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Becky S. Korich
Descrição de chapéu tecnologia

Obediência artificial

Faltam à IA criatividade, malícia; falta Nelson Rodrigues

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga

Geoffrey Hinton, o pioneiro da inteligência artificial (IA) que recentemente pediu demissão do Google e se diz arrependido da própria cria, declarou em uma entrevista que "talvez o que esteja acontecendo nesses sistemas é, na verdade, bem melhor do que o que acontece no cérebro".

É inquestionável que a IA é uma ferramenta com um potencial gigantesco, que pode ser bem ou mal utilizada, e por esta razão deve ser regulada para ter uma abordagem responsável. Mas, talvez por ser demasiadamente humana, ou demasiadamente otimista, não acredito nessas comparações com o cérebro humano. Porque, contradizendo o próprio nome, a AI de inteligente não tem nada. Acumular informações e replicar padrões não é ser inteligente: é ser obediente.

Faltam à IA criatividade, malícia, rebeldia. Falta à IA Nelson Rodrigues, falta alcançar a alma. Faltam curiosidade, opinião, uma ideia, a mudança de ideia. Faltam uma brasilidade, uma malandragem, uma preguiça, sotaques. Faltam, nessa inteligência fabricada, o feminino e o charme. Faltam Leila Diniz, Fernanda Young e Clarice Lispector; faltam o nonsense e a lucidez. Falta caetanear, filosofar, se misturar, compreender, exagerar, alquimiar.

A IA não teve infância. Já nasceu adulta, evoluiu com ideias prontas, com o cérebro pronto, pré-moldado. Acredita sem questionar, tem memória, mas não tem lembrança. Não muda com as fases da Lua. A IA não tem permissão para errar, pois sua existência só se justifica se funcionar o mais perto possível da perfeição e tiver respostas para tudo. Mas os chatbots têm dado suas gafes. O GPT, por exemplo, já matou pessoas vivíssimas, confundiu épocas e personalidades, levando muitos alunos a tirar notas baixas nos trabalhos.

Mais do que nunca, somos instados a usar a nossa inteligência analógica para metabolizar com sabedoria as mudanças dessa tecnologia digital e não deixar que nossos circuitos se atrofiem diante dela.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.