Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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A saga do descadastramento de emails indesejados

Para que eles aceitem o meu pedido, sou obrigada a explicar o porquê de não querer mais uma coisa que eu nunca quis

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Depois de um período de sedentarismo, resolvi retomar o exercício de cuidar da minha caixa de entrada de emails, que estava visivelmente fora de forma. Sobrava gordura e pelancas para todos os lados, resultado de um descuido sazonal. Eram mais de quinhentos emails não lidos, entre newsletter, promoções e anúncios, que conseguiram driblar o lixo eletrônico e passar desapercebidos. Não lido bem com pendências, por isso a vontade inicial era de apagar tudo, dar um boot, começar o ano do zero, mas tive medo de perder um ou outro conteúdo importante camuflado entre os emails invasores.

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Emails indesejados lotam caixas de entrada e limpeza requer horas à frente do computador ou celular - Pixabay

Gastei a paciência que eu tinha reservado para coisas mais importantes e comecei a varredura. Os assuntos eram muitos, inimagináveis, surreais. Métodos garantidos de como ganhar na loteria (que se funcionassem não estariam perdendo tempo comigo), previsões personalizadas de um tal "horóscopo angelical" (sou uma escorpiana nada angelical), tratamento para próstata inchada (não tenho próstata), ofertas de churrasqueira de fogão (não como carne), travesseiro anti dor (durmo que nem uma pedra), lanterna tática portátil com LED (tentando entender até agora), galerias de arte (ainda falta comprar o sofá da sala), entre outras oportunidades incríveis de e-panelas, feirão de carros antigos, monitoramentos, recompensas digitais, renegociações de dívidas e cursos rápidos de filosofia.

Usei a empolgação do começo do ano, época em que somos invadidos por um ímpeto de inaugurar um caderno novo, em branco, na esperança de começar histórias novas, e mergulhei fundo: entrei em cada e-mail, um por um, para solicitar o descadastramento. Começa a saga.

Para que aceitem o meu pedido, sou obrigada a explicar o motivo, ou seja, justificar o porquê de não querer mais uma coisa que eu nunca quis. É claro que o link fica no final da página, para eu ser obrigada a passar por toda a mensagem e, quem sabe, ser fisgada por alguma coisa que me chame a atenção. Mais ou menos a mesma tática usada pelos aeroportos que nos fazem passar pelos Free Shops compulsoriamente –perfeita para consumidores compulsivos. Depois disso, o robô exige que eu prove que eu não sou um robô. Os mais insistentes enviam um teste final: o reconhecimento de imagens com faixas de trânsito, montanhas, motos, enquadrados numa imagem maior, teste que sempre me deixa desconcertada.

Depois de vencer essas etapas, sou encaminhada a uma lista que elenca motivos para eu escolher apenas uma das respostas, mesmo que estejam todas corretas. Tenho que optar entre "tenho recebido emails em excesso" ou "o conteúdo não me agrada" ou "não lembro de ter cadastrado" ou "esses emails têm me perturbado". Ora, é claro, querido robô, que esses emails têm me perturbado, caso contrário não estaria perdendo o seu precioso tempo comigo. Parece que não pensam esses robôs.

Estou firme no meu exercício de limpeza, na esperança de até dezembro deste ano, chegar aos emails de janeiro do ano passado.

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