Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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Becky S. Korich
Descrição de chapéu Apple

As pechinchas da semana

Nada que se compare a um Rolex

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Semana passada, a Apple lançou o Iphone 15 e suas variações Plus, Pro e Pro Max, além da nova versão do Apple Watch Ultra. Nem se eu ganhasse um "plus" do que recebo mensalmente, seria "pro" em sair correndo para comprar a novidade, mesmo porque, apesar de ser "ultra" mega moderno, não sou digna do último modelo de celular, não tenho capacidade de aprender nem paciência para usar os recursos oferecidos. Só troco de telefone quando não tem mais jeito, quando a bateria, programada pela obsolescência planejada para minguar, me obriga a comprar outro. Os novos modelos que chegarão ao Brasil no mês que vem, valem, ou melhor, custam, de R$ 7.299 a R$ 13.999 (não chega a R$ 14 mil). Outubro está aí, corram para enfrentar as filas e aproveitar a bagatela.

Vários celulares Iphone suspensos no ar
O lançamento do Apple iPhone 15 por valores que não chegam a R$ 14 mil, uma pechincha! - Nic Coury - 12.set.23/AFP

Um tênis para corrida foi lançado há alguns meses pela Nike, o Air Zoom Alphafly, com um sistema avançado de amortecimento e flexibilidade. A sola do meu tênis está quase chegando à palmilha, o que me fez interessar pelo produto. Além de bonito, realmente me pareceu ter muita qualidade. Quando vi o preço tive que dar um "zoom" no Air Zoom para me certificar que meus óculos de leitura estavam em dia. Confirmei a pechincha, R$ 2.499,99 (não chega a R$ 2.500), sem nenhum "amortecimento", mas com "flexibilidade" de parcelamento. O mais surpreendente: restavam apenas dois tamanhos 35 e 39. Um bom pretexto para eu não comprar para os meus pés 37.

No mesmo dia do lançamento do Iphone 15, a Dolce & Gabanna fez um "trunk show" (seja lá o que isso signifique) em um shopping da cidade para apresentar a nova coleção de inverno. Não faltaram bolsas e acessórios. Entendo tanto do mercado de ações quanto de bolsas de grife: muito pouco. O suficiente para eu ter perdido dinheiro em ambas as bolsas de valores. Foram duas roubadas em que me meti, também no sentido literal. Concluí que, além de não saber diferenciar se uma bolsa é autêntica ou falsificada, não sei diferenciar o bom do mau conselheiro financeiro. Mesmo assim, fui dar uma espiada em um site por mera curiosidade. De cara, encontrei uma bolsa Dolce & Gabanna, com estampa floral, usada recentemente no Instagram por uma celebridade. O preço: R$ 44.250 (sem o frete). Uma ninharia, afinal é feita de couro legítimo.

Antes que Meryl Streep apareça endiabrada vestida de Prada, quero esclarecer que, além de achar Steve Jobs genial, não se trata de crítica a marcas e grifes. Reconheço e aprecio a qualidade indiscutível (não obstante, às vezes, o gosto discutível) e valorizo sua importância no mercado, que instiga a criatividade, faz a história da moda e gera empregos.

A desajustada, na verdade, sou eu, que insisto nas minhas sandálias de dedo e nas camisetas básicas. Mas nem o básico escapa. A série "The Bear" fez muitos homens desejarem a camiseta branca de algodão usada pelo personagem Jeremy Allen White durante toda a série —e muitas mulheres fantasiarem com o corpo que a camiseta vestia. A marca foi descoberta: Merz B. Schwanen. Um verdadeiro achado, por apenas US$ 95, equivalente a aproximadamente R$ 460. Preço nada básico para uma camiseta básica.

O luxo não conhece a crise. Se existem essas "ofertas", é porque tem quem compre. George Orwell, o profeta da sociedade moderna, tem uma frase certeira para esse sistema: "A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa". Somos todos consumidores, mas às vezes nos tornamos consumistas —outras vezes somos o próprio consumo. Se não são roupas, são perfumes, carros, livros, eletrônicos, vinhos, relógios...

Todos temos os nossos pontos fracos —que não são necessariamente melhores do que os dos outros. Conforme define Zygmunt Bauman, o consumo é mantido para satisfazer desejos subjetivos, para que nos enxerguemos através das coisas que consumimos. A busca da felicidade que se apoia no materialismo é insaciável, portanto, o consumismo é nutrido pela eterna insatisfação. Consumimos, enfim, pelo prazer de consumir, como o gozo pelo gozo.

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