Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

Por que todos precisam ver 'O Urso', série que mistura culinária e ode a Chicago

Obra escapa das armadilhas do Instagram e das fórmulas do streaming para tratar de angústias e traumas geracionais

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Em um dos primeiros episódios de "O Urso", o chef de cozinha Carmy (Jeremy Allen White) explica a um atento aspirante a confeiteiro, Marcus (Lionel Boyce), a sobremesa que lhe rendeu fama. Nada além de camadas de ameixas em quatro preparos distintos, resultado de um trabalho de muitas mãos e muitas horas.

Pois a série criada por Christopher Storer, da elogiada "Ramy", pode ser explicada do mesmo jeito em suas muitas camadas, reveladas devargarzinho. É comédia sobre cozinha, é ensaio sobre choque geracional e forma de ver o trabalho, é declaração de amor a Chicago, é drama familiar, é justificativa para uma incrível trilha sonora (Wilco, Pear Jam, REM, Breeders —sério, ouça).

Jeremy Allen White e o elenco da série 'O Urso', exibida no Brasil na plataforma Star+
Jeremy Allen White e o elenco da série 'O Urso', exibida no Brasil na plataforma Star+ - Divulgação

E é, como resultado dessa combinação delicada e engenhosa, também algo peculiar e muito saboroso, uma surpresa feliz em meio a tantas fórmulas que se repetem com a profusão do streaming.

Carmy, o personagem de White (de "Shameless"), é um talento em explosão com passagem por cozinhas premiadas que retorna a Chicago para tocar a lanchonete da família após a morte do irmão.

O pequeno restaurante serve bons sanduíches, mas é um muquifo onde traficantes batem ponto, clientes gastam pouco e a vigilância sanitária torce o nariz.

A turma que trabalha ali não tem grande ambição, aprendeu o ofício na prática, sem as firulas e a ordem que Carmy preza. Não se deixará converter nem por toda a energia de sua nova sous-chef, Sydney (a comediante Ayo Edeberi).

E a maior barreira é o gerente Richard (Ebon Moss-Bachrach, de "Girls"), amigo de longa data da família, um tipo encrenqueiro que tende a resolver tudo no improviso e que faz bico vendendo remédios controlados/drogas.

Mas o que começa como uma jornada do protagonista para pôr em ordem a cozinha caótica é uma operação de reparos mais complicados: da personalidade de Carmy, da família que resta (ele, a irmã, o amigo que se fez "primo"), dos traumas de cada integrante da equipe e daquele pedaço maltratado da cidade.

A popularização da ideia de cozinha pop-glamorosa, acelerada pelos múltiplos programas de competição culinária e as muitas fotos de comida em redes sociais, pariu uma miríade de filmes e séries sobre o tema, quase sempre caricatos.

"O Urso", com seu elenco afinado e sua fotografia amorosa de uma Chicago fora do Instagram, tem o mérito de usar a cozinha sendo muito mais do que uma série de cozinha.

Sim, há cenas de comida incrível e de coisas dando errado, há ansiedade, mas o que o roteiro enfatiza são as muitas tentativas de produzir algo, entre assédio moral, perseverança, recalque, medo e fé.

Coisa que está em qualquer ambiente de trabalho intensivo e precarizado (quase todos hoje) em que uma geração de valores menos tangíveis quer mostrar a veteranos outro jeito de fazer.

Os oito episódios de 'O Urso' estão disponíveis no Star+, e a segunda temporada foi confirmada

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