Benjamin Steinbruch

Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, vice-presidente da Fiesp. É formado em administração pela FGV.

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Benjamin Steinbruch

É o professor, candidato

Com criatividade e perseverança, podemos buscar recursos em várias áreas

Ao falar de educação, é difícil fugir da observação saudosista de quem teve na infância, décadas atrás, adoração pela primeira professora cujo nome nunca esqueceu: dona Soledade. Era um tempo em que os professores, até mesmo do curso primário (essa denominação também não existe mais), tinham status.

Hoje, às vésperas de uma eleição presidencial, todas as campanhas põem em destaque a educação. Nenhum dos candidatos é tão maluco a ponto de esquecer desse tema em seu programa --os dados divulgados na semana passada, por exemplo, mostram que os alunos do ensino médio sabem menos matemática e português hoje do que há 20 anos. Mas vale a pena prestar atenção em um ponto: quantos candidatos colocam em prioridade a valorização da profissão de professor.

Ao próximo presidente caberão tarefas árduas. Terá de recolocar o país em crescimento econômico, para reduzir o desemprego. Terá de avançar nas reformas para cortar déficit. Terá de conter a criminalidade. E terá de organizar a saúde.

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Sala de aula em Guarulhos, São Paulo - Patricia Stavis/Folhapress

Sua gestão, porém, não será lembrada pela história se descuidar da educação e, principalmente, da valorização e formação de professores.

O governo federal investiu, por exemplo, em 2017 R$ 19 bilhões no financiamento de alunos de universidades privadas. Não é dinheiro jogado fora --precisamos apoiar o ensino superior. Mas, a título de comparação, observo que neste ano está previsto investimento de R$ 1 bilhão em 190 mil vagas de estágios, residência pedagógica e formação de professores.

Há um piso nacional —baixo— para o salário do professor, de R$ 2.455,35, para jornada de 40 horas semanais. E, na prática, metade dos estados e municípios ainda pagam menos, porque têm autonomia para definir a duração da jornada.

A comparação dos salários lá de fora com os daqui é um vexame. Em média, nos países desenvolvidos, os professores ganham cerca de US$ 8 mil por mês, o equivalente a R$ 33 mil. Essa profissão ilustre não será valorizada sem remuneração digna aos que optam por ela.

E não se trata apenas de salário. Os países com sistemas educacionais de alto desempenho, como Singapura, investem pesadamente no desenvolvimento profissional do professor. Na Finlândia, os professores gastam apenas 60% de seu tempo de trabalho na sala de aula. Os outros 40% são dedicados ao aperfeiçoamento e à avaliação do desempenho dos alunos.

Há quem imagine que, no mundo de hoje, com informações saindo pelo ladrão, via internet, o professor deixou de ser importante. Não é bem assim. Barbara Bruns e Javier Luque, autores de um robusto volume denominado "Professores Excelentes", sobre a educação na América Latina, observam que "o principal papel dos professores hoje é equipar os alunos para buscar, analisar e usar grandes quantidades de informações que estão prontamente disponíveis na internet".

A tendência natural é dizer que valorizar o professor é proposta bonita, mas inviável pela falta de dinheiro. Balela.

Com criatividade e perseverança, podemos buscar recursos em várias áreas, na iniciativa privada, no pagamento seletivo de mensalidades em universidade públicas, nas parcerias para pesquisa e investimentos. No futuro, nossos filhos, netos e bisnetos agradecerão.

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Um semeador: Otavio Frias Filho nos deixou precocemente no dia 21. Quando pessoas extraordinárias se vão, fica um imenso vazio. Mas seu legado permanece. Entre muitas virtudes lembradas nos últimos dias, ele tinha uma inigualável: a tolerância que o levou a semear na Folha a diversidade, razão maior do crescimento e sucesso desse grupo. Uma grande perda para o país.

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