Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Descrição de chapéu inflação juros

Pelas circunstâncias, 2023 foi melhor que a encomenda

Deverá ser mais difícil aprovar medidas duras nos próximos anos.

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Há um ano, Fernando Haddad era nomeado ministro da Fazenda. Simone Tebet e Geraldo Alckmin assumiriam os ministérios do Planejamento e o da Indústria e Comércio, respectivamente. O novo governo Lula começava a mostrar sua cara. Nós fazíamos prognósticos.

Passado um ano de governo, é hora de avaliarmos nossas previsões e pensar no que o futuro deve nos trazer.

Em dezembro de 2022, Haddad era o ministro que desagradava aos analistas do mercado financeiro e à maior parte dos economistas preocupados com a situação fiscal. Essa impressão foi mudando com o tempo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Jardiel Carvalho/Folhapress

Nos embates de 2023, a Fazenda esteve com frequência do lado da disciplina fiscal. Hoje em dia, Haddad parece ser mais criticado por congressistas do PT do que por economistas que querem a redução do déficit público.

Propostas de subsídios e de medidas protecionistas têm saído predominantemente do Ministério da Indústria e Comércio ou do BNDES, não da Fazenda. Na semana passada, por exemplo, Geraldo Alckmin falou sobre aumentos nas tarifas de importação e subsídios à indústria química.

Não era essa a expectativa reinante em dezembro de 2022.

A situação fiscal está longe de ser resolvida.

O déficit primário será maior que 1% do PIB em 2023. A tarefa é complicada, os obstáculos políticos são enormes, não seria fácil obter um resultado muito melhor de qualquer modo. Porém, o trabalho do Ministério da Fazenda tem sido dificultado pela resistência do próprio presidente Lula —e de bastante gente dentro do PT.

Geraldo Alckmin e Simone Tebet durante encontro do Mercosul no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel/AFP

Isso levanta questões sobre a condução da economia a partir de 2024.

Este ano de 2023 era para medidas fiscais mais ambiciosas. Neste século, as reformas da Previdência que ceifaram despesas aconteceram no primeiro ano do mandato de Lula, Dilma ou Bolsonaro (em 2003, 2015 e 2019).

Deverá ser mais difícil aprovar medidas duras nos próximos anos.

Ainda assim, se a Reforma Tributária for aprovada como se espera, ainda que cheia de mudanças, 2023 terá sido um ano de relativo sucesso para a Fazenda, considerando as dificuldades, com batalhas vencidas, outras perdidas, mas com objetivos importantes alcançados.

Em 2023, questões fiscais dominaram a agenda econômica.

Quando Simone Tebet assumiu o Planejamento, não era claro quais seriam suas atribuições e o que ela faria.

O anúncio de sua equipe rendeu manchetes e elogios. Na posse, secretários falavam sobre avaliação de políticas públicas, algo importante para melhorar a qualidade dos gastos públicos. Parecia que Tebet capitanearia essa agenda e, dessa maneira, ocuparia um espaço político importante. A equipe está trabalhando nisso, mas ela foi menos vocal do que eu esperava na defesa dessa agenda.

Com isso tudo, como se comparam o crescimento e a inflação em 2023 com o que se esperava ao final de 2022?

Uma grande surpresa positiva foi o crescimento do PIB, próximo de 3%. Há um ano, esperava-se uma variação inferior a 1%. Parte desse crescimento se deve ao bom desempenho do setor agrícola, que puxou o PIB e o superávit da balança comercial.

O desemprego está abaixo de 8%, como não se via desde 2015.

A inflação deve fechar o ano perto de 4,5%, um pouco abaixo da expectativa ao fim de 2022. Apesar da aparente controvérsia em torno da política monetária, a taxa Selic deve encerrar 2023 em 11,75%, exatamente o que se esperava há um ano.

No fim das contas, pelas circunstâncias, 2023 foi um ano melhor que a encomenda. Que 2024 nos traga boas surpresas!

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