Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Bernardo Guimarães
Descrição de chapéu Hamas oriente médio

A morte do presidente pode levar a mudanças no Irã?

Mortes de líderes políticos aumentam a chance de mudanças em regimes autocráticos

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O Irã é um agente importante na geopolítica internacional por sua localização geográfica, por suas importantes ligações comerciais com China e Rússia e por ser grande financiador de grupos terroristas como Hamas e Hezbollah. O país tem cerca de 90 milhões de habitantes e, apesar do rico passado histórico e de suas reservas de petróleo, não vai bem economicamente.

Uma mudança política no Irã impactaria o Oriente Médio e o mundo.

No último domingo, a queda de um helicóptero matou o presidente iraniano, Ebrahim Raisi. No Irã, o presidente é considerado a segunda mais alta autoridade do país, após o líder supremo, Ali Khamenei. Raisi, além de ser o presidente, era apontado como possível sucessor de Khamenei.

A morte repentina de um líder pode fazer alguma diferença nos rumos de um país?

Iranianos no funeral do presidente Ebrahim Raisi - Majid Asgaripour/West Asia News Agency via Reuters

Por um lado, regimes políticos não são determinados por uma só pessoa. Um líder morre, mas os grupos que sustentam o sistema continuam com seus valores e interesses. Por outro lado, especialmente em autocracias, quando o poder está concentrado na mão de poucos, uma mudança na cabeça do regime poderia afetar os rumos do país.

O que dizem os dados?

Há vários casos de mortes de líderes que se tornaram pontos de virada históricos –os assassinatos do arquiduque Franz Ferdinand em 1914 e do presidente de Ruanda Juvénal Habyarimana em 1994 são exemplos frequentemente citados. Isso, contudo, não nos permite inferir causalidade.

Mortes de líderes não são eventos aleatórios. Assassinatos acontecem quando as tensões políticas são grandes. Há mais chance de acidentes se o país tem dificuldade de fazer a manutenção do helicóptero. O problema é que, aí, não sabemos se as mudanças que observamos foram causadas pela morte do líder ou pelos fatores que levaram a essa morte.

Quando queremos testar uma vacina ou um remédio, sorteamos um grupo que recebe o tratamento e comparamos os resultados com os de um outro que não é tratado e fica como controle.

No caso da morte de líderes políticos, essa abordagem requereria sortearmos líderes que morrem e compararmos o que acontece nesses países com outros em que os líderes deram sorte no sorteio.

Ben Jones e Ben Olken estudaram o que mais pode se aproximar desse macabro experimento.

Os autores catalogaram, em um período de 130 anos, todas as tentativas de assassinatos de líderes políticos em que uma arma foi efetivamente disparada ou uma bomba estourou.

A ideia é que diversos fatores levam grupos a planejarem assassinar um líder político. Os planos levados a cabo geram um disparo ou um estouro. Mas a bala ou a bomba podem matar ou não. Aí entra a parte aleatória. Quem morreu vai para o grupo de tratamento. Quem teve a vida poupada pela sorte vai para o grupo de controle.

E aí, o que acontece?

Em democracias, assassinatos não parecem afetar instituições políticas. Outra pessoa toma posse, mas a análise estatística não detecta uma chance maior de mudança no regime.

Em autocracias, porém, mudanças no regime e transições para a democracia se tornam mais prováveis quando o líder político morre. Os efeitos parecem grandes. Além disso, tentativas de assassinato bem-sucedidas parecem acelerar o fim de guerras, mas há muita incerteza nessa estimação.

Esses são efeitos médios. Cada caso tem suas particularidades. Mas a análise de um conjunto grande de países mostra que mortes de líderes políticos de fato aumentam a chance de mudanças em regimes autocráticos. O futuro do Irã, do Oriente Médio e da geopolítica mundial se tornou um pouco mais incerto no último domingo.

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