Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.
Delação em xeque
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
O procurador-geral Rodrigo Janot fala sobre uma possível revisão do acordo de delação da JBS |
BRASÍLIA - A reviravolta na delação da JBS embaralha as cartas num momento decisivo para a Lava Jato. A operação já estava sob ataque em várias frentes simultâneas. Agora pode ser obrigada a recuar em seu maior acordo de colaboração.
O procurador Rodrigo Janot informou que o Ministério Público descobriu fatos "gravíssimos". Eles estão registrados numa conversa entre o empresário Joesley Batista e o lobista Ricardo Saud, que conduzia os acertos do frigorífico com os políticos.
O áudio traz duas novidades importantes. Primeira: os delatores omitiram crimes ao negociar o perdão judicial. Segunda: surgiram indícios de que Marcelo Miller, um ex-auxiliar de Janot, teria atuado como agente duplo em favor dos réus.
Para completar, a conversa conteria "referências indevidas" ao Supremo Tribunal Federal. Mesmo sem detalhes, a menção à corte eletrizou de vez o ambiente em Brasília.
Janot disse que as descobertas podem ter uma consequência drástica: a anulação do acordo com a JBS. Ele ressaltou que isso envolve os benefícios prometidos aos delatores, e não o uso das provas que eles forneceram aos investigadores.
De qualquer forma, o governo e seus porta-vozes festejaram a notícia como um gol em final de campeonato. Ver Janot na defensiva era tudo o que eles queriam às vésperas da segunda denúncia contra Michel Temer. Desta vez, o presidente deve ser acusado de organização criminosa e obstrução da Justiça.
O Planalto e seus aliados sonham em usar o áudio como pretexto para melar a investigação. Isso significaria condenar a Lava Jato ao arquivo, como tem acontecido com todas as grandes operações contra a corrupção no país, a exemplo da Castelo de Areia.
Por outro lado, já estava claro que houve um exagero nos benefícios concedidos aos irmãos Batista. A descoberta desta segunda-feira pode dar ao Ministério Público uma chance para corrigir o seu próprio erro.
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