Tem de tudo: Copa do Mundo, Brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores. Agora mesmo, enquanto rola a Eurocopa, não falta gente fazendo gol até na pracinha aqui perto de casa. No entanto, a regra é clara. Não importa a magnitude do certame: menino que não gosta de futebol será sempre humilhado.
Botei no mundo a prova viva dessa máxima. Um adorável serzinho de sete anos, conhecedor de todos os dinossauros que já habitaram a Terra. Sniper preciso de nerfs que derrubam bibelôs. Construtor de torres no Minecraft. Incapaz, porém, de chutar uma bola.
Cá entre nós: como julgá-lo? O avô só via jogos da seleção. O pai prefere partidas com Federer e Nadal. Eu mesma só lembro que jogador existe quando algum aparece nos portais, preso em cassino clandestino.
Ainda assim, entre homens e meninos reina esse pressuposto de que é preciso gostar do esporte. Afinal, o noticiário é massivo na rádio, na TV e na internet. “O Brasil é o país do futebol.” E também do frescobol, ué. Por que não mesas redondas sobre isso? “Porque frescobol não movimenta a economia.” Tem certeza? Pergunta aos vendedores de cerveja na praia. Enfim.
Até tentei colaborar. Vai que a dificuldade era escolher um time. “Tudo bem torcer pelo Corinthians e pelo Espigão de Rondônia.” Pensei inclusive em incentivá-lo a imitar o esquema tático dos vizinhos, que é berrar da janela “(inserir time), p****!”. Sem o palavrão, claro. Mas não funcionou. Aqui a gente só grita “fora, Bolsonaro” mesmo.
Nem o futebolzinho recreativo se salvou. Aquela pelada de quinta entre amigos, seguida de churrasco. Ou, na versão infantil, o bate-bola no recreio.
“Por que você tá assim?”
“Hoje me obrigaram a ser o Neymar, mãe.”
“Não tinha outra opção?”
“Tinha: Ronaldinho Gaúcho.”
“Me dá um abraço, filho.”
Agora, se existe um 7 a 1 do sofrimento mirim, é convite para aniversário temático. “Venha para a festa do Pedrinho com a camisa do seu time do coração.” Olhei para a cara tristonha do meu guri: ele não tinha coração para aquilo.
Peguei, então, uma camisa preta. “Pronto, você vai de juiz. Juiz manda em todo mundo!” Olhinhos brilharam. “Esse pedaço de papel aqui é seu cartão vermelho. Expulsa quem implicar contigo. E se alguém reclamar —‘mãe de juiz’, aquela coisa— diz que eu me entendo com a Fifa.” E lá foi ele, cheio de si. Confiante feito um campeão. Placar final: mãe 1 x treta 0.
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