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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Para entender o futebol, atleta precisa enxergar os detalhes no jogo

Esse esporte se tornou planejado, científico, veloz, profissional e intenso

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As competições, na mesma época, da Eurocopa e da Copa América, são boas chances de comparar as características de jogo dos dois continentes.

A técnica e a habilidade são essências no futebol. A técnica é a execução dos fundamentos da posição, a lucidez nas escolhas durante o jogo e a inteligência individual e coletiva, ou seja, a capacidade dos jogadores de perceber tudo o que acontece à volta. É o terceiro olho, o do craque.

A habilidade é a capacidade de improvisar, de não perder a bola diante do adversário e de fantasiar, de inventar. A habilidade é mais natural, enquanto a técnica pode ser mais treinada, aprendida e desenvolvida.

Nos anos 1960, a enorme superioridade da habilidade brasileira era decisiva. O cineasta Pasolini escreveu, logo após a Copa de 1970, que a poesia brasileira tinha ganhado da prosa italiana, embora o Brasil não fosse somente poesia nem a Itália, somente prosa.

Com o tempo, isso mudou, progressivamente. Os europeus, pelo maior desenvolvimento econômico, social, estrutural e profissional, evoluíram também no futebol, muito mais na técnica, na execução, no saber fazer, que passou a ser mais importante que a habilidade e a inventividade. Além disso, os europeus passaram a formar muitos jogadores habilidosos e criativos.

O futebol se tornou tão planejado, científico, veloz, profissional e intenso que, para o jogador entendê-lo e acompanhá-lo, precisa ter outras qualidades, principalmente a inteligência coletiva, a virtude de, durante a partida, enxergar os pequenos detalhes presentes no jogo.

Na Eurocopa, Espanha e Itália farão uma das duas semifinais. São duas seleções que se reinventaram depois do Mundial de 2018. A Itália, que eliminou a Bélgica, não tem os melhores jogadores nem era uma das favoritas para ganhar a Eurocopa, mas é a seleção que tem o melhor jogo coletivo.

Para minha surpresa, a maioria das seleções europeias, incluindo as mais fortes, tem feito uma marcação mais recuada, com oito a nove jogadores perto da área, para contra-atacar. A Itália, que tinha uma grande tradição de futebol defensivo, tem sido a exceção, pressionando o adversário e chegando com muitos jogadores ao ataque.

Insigne (camisa 10) comemora seu gol pela Itália contra a Bélgica, na Eurocopa
Insigne (camisa 10) comemora seu gol pela Itália contra a Bélgica, na Eurocopa - Andreas Gebert/Reuters

Os times brasileiros, nos últimos dois anos, evoluíram e têm seguido os modelos europeus. O Palmeiras, dirigido pelo português Abel Ferreira, costuma ter uma estratégia interessante, diferente, ao alternar, em uma mesma partida, o número de defensores. Marcos Rocha é zagueiro e lateral direito, de acordo com o momento.

Na Copa América, o Peru eliminou o Paraguai e enfrenta o Brasil, que ganhou do Chile por 1 a 0. Mais uma vitória, mesmo jogando quase todo o segundo tempo com um a menos.

Quem tem Neymar e Casemiro na proteção da excepcional zaga formada por Marquinhos e Thiago Silva é forte contra qualquer adversário, ainda mais um da América do Sul. Os outros jogadores do Brasil são também bons e, além disso, a seleção é uma equipe organizada, disciplinada e que quer vencer todos os jogos.

Diferentemente da Espanha, da Itália e das seleções médias da Eurocopa, que renovaram suas equipes e evoluíram, o Chile, principalmente, e as outras seleções sul-americanas, com exceção da Argentina, continuam com quase os mesmos jogadores e com times inferiores aos que tiveram nos últimos anos. É um reflexo dos graves e cada vez maiores problemas econômicos e sociais da América do Sul.​

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