Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune

Barbies que eram divorciadas e sobreviventes dos Andes

Perdão pelo spoiler, mas assim terminavam todos os meus filmes com elas

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Uma loura de cabelos esvoaçantes, lutando pela vida de salto altíssimo, em meio a uma tempestade de neve nos Andes, feita de isopor ralado. Corta para. Uma loura de cabelos esvoaçantes, lutando pela vida de patins, no coração da floresta amazônica, enquanto é resgatada por um avião com hélice de pirulito. Corta para. Uma loura de...

"Tá na mesa! Larga essa boneca e vem almoçar".

Perdão pelo spoiler, mas assim terminavam todos os meus filmes da Barbie. Décadas antes do longa-metragem da Greta Gerwig, que nem estreou mas já é uma franquia de memes e emoções nostálgicas. Uma espécie de trailer da minha própria infância.

Natal, aniversário, Dia das Crianças. Época de bebezinhos com fralda para trocar, mamadeira para dar e xixi para fazer no penico, que vinha de fábrica. Isso ou conjunto de panelinhas, de produtinhos de supermercado, aparelho de chá para receber amiguinhas e falar de futuros maridinhos altos funcionários do Banco do Brasil.

Na colagem digital de Marcelo Martinez: recortes de jornais com preços do período da hiperinflação nos anos 1980. Em destaque, no centro, a figura da boneca Susi, emulando o meme do novo filme da Barbie
Ilustração de Marcelo Martinez para coluna de Bia Braune de 16.abr.2023. - Marcelo Martinez

Até que do nada, como no teaser inspirado pelo monólito de "2001", surgiu uma caixa reluzente entre os macaquinhos de pelúcia do meu quarto. Era ela. De tão impactada, esbarrei num frasco do kit do pequeno cientista e deixei cair uma solução de sei lá o quê em seus cabelos louros, futuramente esvoaçantes. Uma mecha esbranquiçou na hora. Minha primeira Barbie aventureira com química de balayage.

Aliás, que fique claro: quando enfim lançaram a Barbie médica, engenheira e inclusive astronauta, eu e outras parças do play já nos virávamos, fechando o mês das nossas bonecas profissionais liberais, com boletos a pagar e nome sujo no Serasa.

Ao ganhar a tradicional família brasileira made in China –Barbie, marido e filhos que não eram vendidos separadamente–, instituí a monogamia ma non troppo. Vira e mexe uma D.R. resultava em divórcio e troca de casais. Levando em conta, claro, que pelo censo do IBGE mirim havia sempre um Ken para trocentas Barbies. Organizando direitinho, todo mundo encomendava bebês à cegonha –afinal, o boy tirava a roupa e continuava de cueca, esculpida no plástico. Uma suruba ingênua.

Foram anos e mais anos de vestidos feitos com capa de guarda-chuva, tatuagens em forma de mancha de canetinha e pés mastigados pelo cachorro. Nada que ameaçasse o busto à prova de lei da gravidade e a cinturinha de pilão, num contraste absoluto com a Susi boazuda e de cadeiras largas que eu também tinha e amava. Essa, porém, deixaremos para outro filme, com sorte estrelado pela Paolla Oliveira.

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