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Vivian Masutti é editora-assistente da Ilustrada. Foi repórter, colunista e editora de cultura. É coordenadora do Clube de Leitura Folha

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Descrição de chapéu Livros Rússia

Valérie Perrin critica Bolsonaro e se distancia da italiana Elena Ferrante

Fenômeno da literatura pop, autora chega ao Brasil com 'Água Fresca para Flores' e cita proximidade com Agatha Christie

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Quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República, em 28 de outubro de 2018, a escritora best-seller francesa Valérie Perrin, 55 anos, lamentou. Temeu pela conservação da Amazônia. Uma amiga próxima brasileira havia lhe contado que a preservação do meio ambiente não era lá uma preocupação central do atual governo.

"Ela ficou devastada, pois Bolsonaro é um grande antiecologista e acho isso devastador", conta a escritora —fenômeno literário em seu país com a repercussão de seu primeiro livro, "Oubliés du Dimanche" (algo como esquecidos no domingo), de 2015.

"Visitei o Brasil há cerca de três anos. Falei com pessoas do interior do país e para elas Bolsonaro não era assim não terrível como sentimos no Ocidente. Mas hoje eu sei bem sobre o massacre das florestas sob esse governo. Espero que os brasileiros saibam escolher uma boa pessoa para governar o seu país", afirmou Valerie, em conversa por email com a reportagem, sobre as eleições presidenciais do fim do ano.

mulher de cabelos castanhos presos
A escritora francesa Valérie Perrin - Divulgação

Ela espera que a tradução de seu primeiro livro no país, "Água Fresca para Flores", publicado este ano pela Intrínseca, a aproxime mais de seu público brasileiro. Afinal, afirma, a crise que vivemos é global. "Há uma frase magnífica do Victor Hugo que diz em essência que damos mais ênfase à perseguição aos estrangeiros do que à defesa do planeta. Todos os povos do mundo deveriam unir forças, pois sabemos que em dez anos haverá um desastre ecológico global. Mas, para esconder nossa culpa nesse assunto, somos levados a acreditar que o inimigo do homem é o estrangeiro."


Na narrativa de "Água Fresca", que assim como o anterior é calcado na vida de uma mulher, os elementos necessários para a educação sentimental do leitor vão aparecendo aos poucos, por meio de personagens e situações cotidianas, com os quais seja fácil de se identificar, ao mesmo tempo em que valores universais servem de porta de entrada para relações mais complexas. "O que agrada às pessoas é que as coisas mais simples dão origem aos sentimentos mais extraordinários."

Violette é uma mulher de quase 50 anos que encontra a paz trabalhando como zeladora de um cemitério, após anos vivendo um casamento fracassado. A escolha do local como protagonista da história é uma tentativa da autora de tratar da tragédia ao mesmo tempo em que há ali provas de amor, poesia e flores. E Valérie se questiona sobre uma possível relação entre os elementos de sua história ainda com a crise humanitária no Leste Europeu.


"O cemitério de Violette está repleto de tragédias, mas em nada se compara ao que se passa no Afeganistão e na Ucrânia hoje. Eu me pergunto quando é que a comunidade internacional vai fazer alguma coisa. Como podemos lutar contra as tragédias de hoje? Como deixamos Putin fazer isso?"

Com sua obra premiada e traduzida para mais de 30 países, Valérie Perrin virou fenômeno inclusive na Itália, país famoso por ser terra natal de outra figura proeminente da literatura feminina contemporânea, a escritora Elena Ferrante. Mas as semelhanças de ambas terminam por aí. Enquanto Ferrante dá voltas ao entorno de suas personagens, aproximando-se delas à medida que expõe aspectos indigestos do universo feminino, Perrin prefere uma abordagem à Agatha Christie, explorando os mistérios das vidas que leva à sua ficção.

"Hoje, acho que minhas maiores inspirações são Cyril Dion, Pierre Rabhi e Jane Goodall, grande defensora do planeta, ou ainda Paul Watson, que criou a Sea Shepherd, que luta pelos mares. Não devemos nos esquecer nunca de que, se não houver possibilidades nos oceanos, a humanidade acabará. Gosto de incluir em meus romances a proteção aos animais e o vegetarianismo. É uma pequena mensagem que está sempre nas entrelinhas."

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