Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Haddad tem desafio de ser Lula e não ser Lula na mesma eleição

Um petista light pode reduzir resistências no auge do antipetismo no 2º turno

O protocolo frio do TSE obrigou Fernando Haddad a estrear como o presidenciável de fato do PT. O ex-prefeito larga para um desafio em duas etapas: primeiro, convencer o eleitorado petista de que ele é Lula; depois, persuadir o restante do país de que não é tão Lula assim.

Haddad tem 52 dias para colar sua imagem à do ex-presidente, conquistar o eleitorado cativo do PT e chegar ao segundo turno. Vai viajar pelo Brasil (a começar pelo Nordeste) para que os apoiadores de Lula reconheçam nele a expressão de seu líder.

Aí estão os nichos com maior potencial de adesão a Haddad. Um fluxo de parte dos 30% de votos de Lula inflaria o ex-prefeito de 1% para dois dígitos. Com alta abstenção e quadro pulverizado, um patamar de 15% a 20% seria suficiente para levá-lo ao segundo turno.

Nesta passagem, Haddad se transmutaria. O ex-prefeito é tratado como camaleão: embora defenda teses alinhadas ao PT, seu perfil intelectual e suas raízes na classe média paulistana permitem que ele coma fora de territórios vermelhos.

Quando foi lançado à Prefeitura de São Paulo em 2012, brincava-se no partido que ele tinha boas chances porque “parecia tucano”. Essa característica deve ajudar em uma disputa que se dará no auge da polarização entre petismo e antipetismo.

Ainda que a identidade lulista seja útil no primeiro turno, uma figura mais light seria o caminho no segundo —afinal, 51% dos eleitores dizem que não votariam em um candidato apoiado por Lula de jeito nenhum.

Se o PT chegar a um embate direto com Jair Bolsonaro (PSL) ou Geraldo Alckmin (PSDB), um Haddad “nem tão petista” poderia reduzir resistências no eleitorado que não quiser o militar reformado ou o tucano.

Em 2016, Marcelo Crivella se elegeu prefeito do Rio porque foi o menos reprovado. O bispo licenciado da Igreja Universal chegou ao segundo turno com rejeição em alta. Mesmo assim, recebeu os votos de quem torceu o nariz quando Marcelo Freixo (PSOL) decidiu trombetear suas convicções no campo da esquerda.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.