Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Supremo age contra covardia política ao criminalizar homofobia

Justiça não pode criar leis, mas deve usar seu poder para garantir direitos

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Quando o Supremo começou a julgar a criminalização da homofobia, em fevereiro, quatro deputados pediram o impeachment dos ministros que haviam votado a favor da ideia. O grupo disse que não havia críticas ao mérito da ação, mas atacava os magistrados que “legislam no lugar dos parlamentares”.

É sintomático que nenhum daqueles deputados tenha protestado antes, quando o STF reinterpretou a Constituição para permitir a prisão de condenados em segunda instância, ou quando a corte produziu estripulias como a invenção de novas regras para o foro especial.

O argumento da separação de Poderes costuma servir mal àqueles que agem por conveniência política. Ainda que o Judiciário não possa objetivamente fabricar suas próprias leis, é impossível defender a ideia de se negar proteção a quem é vítima de intolerância.

Prédio sede do STF refletido nos espelhos do salão nobre do Palácio do Planalto, do outro lado da Praça dos Três Poderes
Prédio sede do STF refletido nos espelhos do salão nobre do Palácio do Planalto, do outro lado da Praça dos Três Poderes - Pedro Ladeira - 2.out.18/Folhapress

O Supremo decidiu nesta quinta (13) que, por omissão do Congresso, a homofobia deve ser enquadrada na lei dos crimes de racismo. Trata-se de um remendo, já que essa interpretação só valerá enquanto os parlamentares não aprovarem um projeto específico sobre o assunto.

A discussão jurídica sobre os limites dos tribunais é densa e controversa. Em alguns casos, em especial no mundo político, o papo legalista só serve para disfarçar preconceitos.

Um dos parlamentares que pediram a expulsão dos ministros do STF foi o célebre Marco Feliciano. Ele integra o lobby que, por anos, impediu que o Congresso aprovasse a criminalização da homofobia.

O pastor já teve a companhia do então deputado Jair Bolsonaro. Em 2014, ele protestou contra o projeto e ironizou: “Eu acho que tem que ter uma lei para criminalizar carecafobia, flamengofobia, corintianofobia, magrelofobia, peitocaídofobia etc.”.

A ausência de uma lei sobre qualquer tema não serve de autorização para que juízes invadam competências, mas é justo abrir exceções. Quando está em jogo a salvaguarda de direitos fundamentais, a Justiça não pode pecar por covardia.

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