Antes de ganhar um ministério, o PSD ajudou Jair Bolsonaro a aprovar a reforma da Previdência. A pauta era considerada amarga, e a proposta foi desidratada pelos parlamentares, mas a sigla colaborou com o governo: deu 34 votos a favor da medida e apenas 2 contrários.
Nas últimas semanas, líderes partidários brincavam que, ao distribuir cargos para o centrão, o presidente pagaria por um apoio que já recebe. Era um exagero. Apesar do avanço da pauta econômica, Bolsonaro nunca teve vida fácil na Câmara e no Senado. O gracejo, porém, mostra que a relação entre o Planalto e sua nova base aliada deve continuar instável.
Nas conversas em que ofereceu espaço aos partidos, o presidente não pediu apoio a uma agenda de governo. Segundo dirigentes, Bolsonaro só cobrou a aprovação do projeto que prorroga a validade das carteiras de motorista. Não citou nenhuma ideia para a economia ou para a saúde na esteira da pandemia.
O principal compromisso dessa sociedade é a defesa do presidente e de sua família. Alguns dos caciques estão dispostos a blindar o clã Bolsonaro em eventuais votações em CPIs, denúncias por crimes comuns, pedidos de impeachment e nos conselhos de ética do Congresso.
A negociata não inclui, por exemplo, os retrocessos da agenda ideológica do presidente. Propostas econômicas podem ser vistas com boa vontade, mas o centrão é mais simpático ao aumento de gastos do que à tesoura de Paulo Guedes.
Ao amarrar siglas que somam cerca de 200 deputados, o governo pode até sofrer menos trancos no plenário, mas ainda está longe de obter maioria para tratorar a oposição e parlamentares críticos a Bolsonaro.
O presidente comprou a própria proteção, mas a fidelidade dessa base dependerá dos benefícios políticos do contrato. Além dos cargos em órgãos com orçamentos bilionários, a popularidade de Bolsonaro também vai ditar os termos da relação. Todas essas siglas estiveram ao lado de Dilma Rousseff, até que os números da petista derreteram.
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