Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Sem frear Bolsonaro, 'pacto nacional' interessa mais a ele do que ao país

Insistência na cloroquina e tensão com governadores mostram que velhos vícios continuam presentes

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Parecia que o coronavírus tinha acabado de chegar ao Brasil. Numa encenação solene, Jair Bolsonaro e outros chefes políticos se reuniram para pedir harmonia e prometer um esforço conjunto no combate à pandemia. A iniciativa chegou depois de 300 mil mortes, e ninguém foi capaz de apontar o dedo para os principais responsáveis pelo atraso.

Bolsonaro anunciou um comitê que se reunirá toda semana e que pode "redirecionar o rumo do combate ao coronavírus". O presidente do Senado falou num "pacto nacional" liderado pelo Planalto, e o presidente da Câmara cobrou "uma única orientação nacional", segundo diretrizes do Ministério da Saúde.

Mudar o caminho do enfrentamento à pandemia, liderar esse trabalho e seguir as orientações das autoridades de saúde foi tudo o que Bolsonaro se recusou a fazer nas últimas 54 semanas. A doença está aí há mais de um ano, já existem vacinas, e os protocolos para conter a catástrofe foram testados. Quando teve oportunidade, o presidente empurrou o país pelo caminho errado.

Jair Bolsonaro em pronunciamento após reunião com líderes políticos no Palácio da Alvorada - Evaristo Sa/AFP

Ainda que Bolsonaro tenha recebido agora o papel simbólico de coordenador desse pacto, dificilmente alguém deve acompanhá-lo. O objetivo real é diluir a autoridade do presidente, compartilhar as responsabilidades pela situação do país e reduzir a pressão sobre o governo.

As credenciais de Bolsonaro na função não resistiram aos primeiros minutos de seu discurso, na manhã desta quarta (24), após a reunião. Ele até fingiu ter deixado de lado o falso dilema entre saúde e economia ao dizer que a vida estava "em primeiro lugar". Mas gastou mais tempo em defesa do ineficaz "tratamento precoce" do que da vacinação.

Num esforço para zerar o jogo, o presidente ainda chamou mutações de “novo vírus”. A insistência em jogar confetes como a cloroquina sobre sua base de apoio e a constante tensão com governadores, porém, mostram que velhos vícios continuarão presentes. Se não for capaz de frear Bolsonaro, esse teatro interessa mais a ele do que ao país.

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