Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian

Equipe do Ministério da Saúde atuou no ramo das vacinas fantasmas

Ex-diretor sugeriu que era possível ganhar dinheiro mesmo que compra não fosse fechada

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Um policial, um reverendo e um empresário chamado John entraram no Ministério da Saúde. Em conversas separadas, o trio ofereceu à pasta mais de meio bilhão de doses de vacinas contra a Covid. Nenhum deles representava laboratórios que fabricam o imunizante, mas o governo topou conversar.

Depois da Davati e de uma ONG religiosa, a Folha mostrou que a equipe do então ministro Eduardo Pazuello discutiu a compra de vacinas com uma importadora de Santa Catarina. A World Brands e o tal John prometiam 30 milhões de doses da Coronavac a US$ 28 por unidade.

O ministério já tinha pagado US$ 10 pela mesma vacina. O fabricante chinês dizia que não trabalhava com intermediários. Ninguém viu problema: o secretário-executivo Elcio Franco recebeu os empresários, e Pazuello gravou um vídeo para anunciar a assinatura de um memorando de entendimento para a compra.

O episódio prova que uma turma do governo atuava no negócio das vacinas fantasmas. Depois de se reunir com um PM que oferecia 400 milhões de doses da AstraZeneca ao valor ínfimo de US$ 3,50 cada, esse time achou razoável negociar a Coronavac pelo triplo do preço original, com pagamento antecipado e sem saber se os frascos existiam.

A melhor defesa para quem participou das conversas seria alegar pura incompetência. Os casos são tão absurdos que a desculpa não deve colar. Os contratos furados podem ser resultado de uma corrida por trambiques dos grupos que disputam espaço no Ministério da Saúde. Ou talvez o negócio não fosse a vacina, mas a própria negociação.

Na CPI, o ex-diretor Roberto Dias afirmou que o "único interesse" de algumas empresas era obter uma carta que comprovasse interesse do governo nas vacinas. Com o papel, uma firma "se cacifa lá fora para diversas coisas". Ele disse que não podia emitir o documento e sugeriu que essa atribuição era de outros dirigentes da pasta. Mesmo que o negócio fantasioso não fosse fechado, alguém poderia ganhar dinheiro.

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