Em sua segunda visita à CPI da Covid, o ministro da Saúde quis esconder o espírito negacionista que assombrava sua cadeira. Marcelo Queiroga admitiu que seu chefe dava maus exemplos e se encheu de orgulho para lembrar que havia editado "uma portaria obrigando o uso de máscaras" dentro da pasta. "Nós julgamos isso importante", declarou.
Considerando os passos seguintes do ministro, a medida só valeu pela propaganda. Queiroga agora diz ser contra a obrigatoriedade das máscaras. Em entrevista ao canal ultrabolsonarista Terça Livre, nesta quarta (18), ele afirmou que o país tem "muitas leis" e que é melhor conscientizar a população. Ficou por aí.
O ministro vai contra a saúde pública ao fazer uma concessão barata à turma radical que apoia Jair Bolsonaro. Aliados do presidente gostam de levantar a discussão sobre a obrigatoriedade da máscara porque querem que o equipamento seja encarado como uma escolha pessoal e não um pacto da sociedade para frear a transmissão do coronavírus.
Queiroga não é contra máscaras, mas lança seguidos acenos a essa obsessão bolsonarista. Em junho, ele fez o jogo do presidente e prometeu um parecer para dispensar o equipamento. Na semana passada, o ministro politizou o tema e falou em "desmascarar aqueles que, mesmo que nunca tenham usado máscaras, precisam ser desmascarados".
O timing das declarações é especialmente perigoso. Ainda que a vacinação tenha avançado, só um quarto da população está protegida com as duas doses, e uma pessoa pode transmitir o vírus mesmo que esteja imunizada. Países que haviam derrubado restrições ao uso de máscaras voltaram a discutir o uso do equipamento para conter a variante delta.
Outros agentes públicos já escolheram desgastar regras mínimas da pandemia para se alinhar ao presidente. Na terça (17), a subprocuradora-geral Lindôra Araújo disse não ver crime no fato de Bolsonaro sair sem máscara e ignorou estudos científicos ao dizer que há dúvidas sobre a "exata eficácia" do equipamento.
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