O governo se embrenhou tanto no camelódromo das vacinas intermediadas por personagens suspeitos que perdeu o caminho da saída. O último movimento bolsonarista na CPI da Covid mostra que os aliados do presidente não conseguem mais explicar os rolos identificados nas negociações de imunizantes.
A tropa de choque de Jair Bolsonaro tentou virar o jogo na sessão desta quinta (12), mas acabou se complicando. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP), disse que a comissão havia "espantado os interessados" em vender vacinas. "Não há mais laboratórios buscando o Brasil, porque não querem se expor a esse tipo de inquirição", declarou.
O esforço de Barros para defender investigados e transferir a culpa para a comissão atiçou senadores governistas. Flávio Bolsonaro (Patriota) pegou carona no descaramento do líder e lançou a nova linha de defesa do Planalto: declarou que "a única coisa concreta que a CPI conseguiu" foi "impedir milhões de vacinas nos braços dos brasileiros".
Os aliados de Bolsonaro devem ter esquecido que o próprio Ministério da Saúde cancelou o contrato do imunizante indiano Covaxin, intermediado pela Precisa Medicamentos. A Controladoria-Geral da União, órgão do governo, detectou que dois documentos apresentados pela empresa haviam sido adulterados.
A acusação de Barros também se perde no caso da chinesa Convidecia. O laboratório CanSino desmentiu o líder e afirmou que continua interessado em vender doses para o governo, mas lembrou que interrompeu o processo porque precisou trocar seus representantes no Brasil por motivos de compliance –ou seja, algo cheirava mal no acordo.
A CPI pode ter espantado picaretas que prometiam doses inexistentes, reverendos que simulavam missões humanitárias e empresas em busca de pagamento antecipado. Quem age para "impedir milhões de vacinas nos braços dos brasileiros" é o governo, que ignorou dezenas de ofertas da Pfizer e mantém imunizantes parados em galpões.
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