Jair Bolsonaro fez a festa de líderes evangélicos. "Não adianta chorar! Temos um pastor no STF", comemorou o estridente Silas Malafaia após a aprovação da André Mendonça para o tribunal. "Parabéns ao presidente Bolsonaro, que não cedeu a pressões internas e externas", escreveu.
O presidente não fez lá muito esforço para conquistar votos para Mendonça no Senado –o grosso do corpo a corpo com os parlamentares ficou a cargo dos próprios pastores. Ainda assim, esses líderes devem reconhecer que a caneta de Bolsonaro deu início a todo o processo.
A parceria que resultou na nomeação de um pastor para o STF é uma relação de mutualismo. As igrejas agora têm um representante direto em um posto estratégico da estrutura do poder. Bolsonaro, por sua vez, espera contar com o apoio incondicional dos líderes religiosos em 2022.
A tradução desse patrocínio em votos será uma variável importante da próxima eleição. Bolsonaro tem a simpatia das cúpulas das igrejas, mas aparece no primeiro turno com 38% das intenções de voto entre evangélicos, contra 34% de Lula (PT).
Às vésperas do primeiro turno de 2018, o capitão marcava 42% no mesmo segmento. Fernando Haddad (PT) tinha 16%. Os números sugerem que Bolsonaro conserva boa parte do núcleo evangélico que o apoiou na última eleição e que Lula tem um bônus particular sobre o petismo nessa fatia do eleitorado.
O ex-presidente credita esse desempenho a fatores econômicos. Num encontro virtual com evangélicos, Lula argumentou que muitos fiéis foram atendidos pelas políticas criadas em seu governo. A ideia é repetir esse discurso na campanha para romper o elo conservador de parte desses eleitores com Bolsonaro.
Os petistas esperam driblar a influência de líderes religiosos sobre o eleitorado. "Quando fui presidente, não queria governar para um pastor, eu queria governar para o povo", disse Lula. É uma aposta arriscada. O ex-presidente tem rejeição alta entre evangélicos e pode precisar dos pastores para amenizar esse índice
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