Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Governo tenta adoçar o comprimido amargo do arcabouço fiscal

Haddad convence Lula de regra para gastos, mas preserva fôlego para perseguir compromissos de campanha

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Michel Temer dizia que os rasos índices de aprovação ao governo lhe davam coragem para tomar o que chamava de "medidas impopulares", como o teto de gastos. Jair Bolsonaro, preocupado com seus próprios números e com uma reeleição em risco, abandonou a fantasia ultraliberal e abriu tantos buracos naquele mecanismo de controle de despesas que, na prática, ele foi demolido.

Não é trivial que a missão de refazer a regra recaia sobre um presidente de esquerda que fez campanha prometendo engordar o Orçamento. A elaboração do arcabouço fiscal levou em conta um equilíbrio complexo entre as desconfianças de investidores, o pacto de Lula com sua base fiel e a manutenção de um estoque de popularidade.

Fernando Haddad perseguiu uma regra que tivesse a marca do aperto nas contas depois de convencer Lula de que, do contrário, a política econômica seria um alvo constante. A contrapartida exigida pelo Palácio do Planalto foi uma modulação, para que o governo tivesse fôlego para atender a seus compromissos de campanha, e uma embalagem que permitisse amortecer possíveis acusações de estelionato eleitoral.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Adriano Machado/REUTERS

A criação de um limitador de despesas significa que, cedo ou tarde, Lula terá que dizer a sua base que não poderá cumprir alguma promessa de 2022. O governo faz um esforço para adiar esse momento incômodo ao estabelecer uma margem mais confortável do que o antigo teto, guardando espaço para gastos com saúde e educação.

No anúncio da nova regra, Haddad buscou adoçar o comprimido amargo do ajuste. Disse que o arcabouço permite a inclusão dos pobres no Orçamento, manifestou preocupação com as famílias e sinalizou que o custo do aperto seria pago pelos mais ricos que, segundo sua equipe, recebem benefícios indevidos.

Foi uma mensagem para os eleitores de Lula e para grupos do PT que rangem os dentes com a ideia de um aperto. Atender a esses grupos e acalmar agentes econômicos indóceis será um desafio permanente.

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