Durante a campanha, Lula apostou num tripé para puxar pelo bolso segmentos-chave do eleitorado. A volta do Bolsa Família buscava garantir a fidelidade dos mais pobres. O reajuste do salário mínimo tinha como alvo o trabalhador do degrau seguinte da escada de renda, enquanto a gasolina mais barata tentava seduzir parte da classe média.
O então candidato baseava o cardápio no "efeito picanha". A ideia de que esses eleitores teriam acesso à carne nobre virou propaganda para uma promessa de melhora do ambiente econômico, aumento do poder de compra e resgate da memória dos primeiros governos petistas.
Lula teve pressa para dar fluxo às medidas e evitar a frustração precoce do eleitor. Nesta terça-feira (16), a Petrobras anunciou que entregaria o terceiro item do pacote, com uma mudança em sua política de preços e o corte dos valores cobrados pela gasolina, pelo diesel e pelo gás.
A estatal não fez uma jogada radical nem deixou claro como vai formar os preços, mas entregou o que o governo queria: uma oportunidade política num momento em que a tração da economia continua frouxa.
O preço da gasolina é um capítulo importante do manual dos presidentes porque costuma ter alcance amplo e efeito imediato. Em condições favoráveis, pode contribuir para alimentar uma sensação de bem-estar econômico ao transformar cada posto de combustíveis num outdoor a favor do governo.
Ao longo do dia, petistas e aliados tentaram colher os dividendos, ecoando a plataforma da campanha. Pintaram o anúncio como uma demonstração de que Lula cumpre suas promessas, buscaram um contraste com os primeiros anos de Jair Bolsonaro e exibiram o corte como prova das vantagens do controle estatal sobre a Petrobras.
O tiro curto do governo pode atingir quase todos esses objetivos, mas a duração dos efeitos políticos vai depender de outros fatores —desde os detalhes da nova fórmula de preços até a pressão inflacionária sobre outras áreas da vida do eleitor.
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