Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Cheque de Lula afrouxa corda de governadores bolsonaristas

Petista transforma em fato político relação republicana desprezada por Bolsonaro

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Todo político precisa de um certo cinismo. Alguns exageram de vez em quando. Após um evento com Lula, Tarcísio de Freitas disse que um ato envolvendo dois opositores não era "nada de mais". Cláudio Castro seguiu um caminho parecido depois que o petista anunciou investimentos no Rio: "Não vou aplaudir esse cara?".

Os dois governadores são sócios de um clube que nunca tratou essas relações de maneira trivial. Jair Bolsonaro foi um presidente que ameaçou cancelar a compra de uma vacina porque ela havia sido desenvolvida no governo de João Doria. Foi também aquele que xingou Flávio Dino e disse que o Planalto não deveria "ter nada com esse cara".

A máquina do governo era uma arma suja que Bolsonaro não tentava camuflar. Ainda no primeiro ano de mandato, ele disse que só atenderia às demandas de governadores críticos se eles falassem "que estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro". Numa overdose de desfaçatez, emendou: "Caso contrário, eu não vou ter conversas com eles".

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao lado do presidente Lula (PT) durante evento em Santos (SP) - Adriano Vizoni/Folhapress

Lula abriu seu talão de cheques. Nas últimas semanas, o presidente subiu em palanques ao lado dos governadores bolsonaristas de São Paulo, Rio e Paraná. Nesta quarta (8), desembarcou em Minas Gerais. Transformou o giro num fato político e sorriu ao lado de opositores que, até então, faturavam quando davam pancadas no presidente.

Ninguém espera que o quarteto abandone as raízes ou faça campanha para Lula. Mas a jogada afrouxa uma corda que o bolsonarismo gostaria de manter sobre esses governadores. Na oposição, o plano do ex-presidente era usar o peso político desses estados para fazer um contraponto ao governo federal a partir de um antipetismo absoluto.

Ainda que nenhum dos projetos anunciados por Lula seja arrasador, o presidente amplia a exposição da marca do governo e evita que estados estratégicos sejam canteiros de obras apenas da direita. De quebra, a cordialidade com a oposição ainda permite que o petista repise o contraste com o antecessor.

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