Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu violência

Omissão do governo em votação da saidinha foi presente para oposição

Pragmatismo faz parte do jogo, mas esquerda precisa forçar debate e enfrentar agenda na segurança pública

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Qualquer presidente de esquerda sabe que governar com um Congresso de direita significa escolher algumas batalhas e abrir mão de muitas outras. O pragmatismo é parte do jogo, mas só uma overdose de resignação é capaz de transformar brigas perdidas em presentes generosos para a oposição.

O governo entregou os pontos na votação do projeto que restringe a saída temporária de presos, aprovado na Câmara e no Senado. Sob o argumento de que aquele não era um tema de interesse do Planalto, os líderes de Lula no Congresso cederam a adversários um raro momento de protagonismo nacional numa área considerada delicada.

Descontado o fato de que o Planalto deveria estar mais do que interessado em discussões sobre política carcerária, seria mesmo um esforço inútil. A limitação da saidinha é uma daquelas propostas que pegam carona numa indignação genérica com casos de violência, ignoram dados sobre a eficácia de políticas públicas e são exploradas sem nenhuma profundidade por populistas.

O deputado Capitão Derrite (PL-SP) durante a votação do projeto que restringe a saidinha de detentos, na Câmara - Pedro Ladeira/Folhapress

Em vez de forçar um debate maduro ou negociar uma redução de danos, o governo deixou o palco livre para a oposição. Coube ao senador Sergio Moro, por exemplo, a apresentação de uma emenda que flexibilizou a proposta original e permitiu a saidinha de detentos para estudar.

Outros expoentes do bolsonarismo fizeram festa. O secretário de Segurança de São Paulo deu uma pausa no comando da barbárie policial do estado e reassumiu o mandato de deputado para relatar o projeto. Já Tarcísio de Freitas disse que a aprovação era "um passo fundamental" para acabar com a impunidade.

Políticos de esquerda não precisam embarcar na propaganda enganosa do governador paulista, mas deveriam contabilizar o desgaste que sofrem quando tratam a segurança pública como tabu e saem de campo. Se a nova passagem pelo poder não obrigá-los a enfrentar essa agenda, a direita continuará dando as cartas sozinha em tópicos sensíveis, com alta reverberação no eleitorado.

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