Bruno Gualano

É professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP. Também é autor de 'Bel, a Experimentadora'

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Níveis tóxicos de tela ameaçam a saúde dos jovens

Podemos estimar que os adolescentes têm permanecido desconectados por apenas 2 ou 3 horas diárias, se tanto

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Um recente estudo publicado na revista científica JAMA confirma o que provavelmente todos os pais de adolescentes desconfiavam: os jovens estão expostos a níveis tóxicos de tela.

Durante a pandemia, as imprescindíveis medidas de distanciamento social afetaram sobremaneira a rotina dos adolescentes. Da velha televisão aos modernos jogos online, nossa impressão é de que a vida dos jovens foi completamente tomada pelas telas.

Cientistas da Universidade da Califórnia obtiveram números que dão conta do tamanho do problema. Ao entrevistarem 5.412 adolescentes estadunidenses durante a pandemia, os pesquisadores observaram que, em média, os jovens têm gasto cerca de 8 horas diárias em frente à tela –nada menos do que o dobro de antes da crise sanitária.

Young teenage girl using her cell phone in public transportation
Adolescente mexe no celular - Astarot - stock.adobe.com

Do rico cardápio de telas disponíveis aos adolescentes, as que mais lhes consomem o tempo são: streaming de filmes e séries (~2,4 horas/dia), jogos online e offline (~2,6 horas/dia), mídias sociais (~1 hora/dia), aplicativos de mensagens (~1 hora/dia), bate-papo e buscas na internet (~1 hora/dia).

Note, leitor, que nesta pesquisa, as atividades de ensino não foram contabilizadas. Se considerarmos, contudo, que estas estão sendo ministradas de maneira remota durante boa parte da pandemia, é possível estimar que, enquanto acordados, os adolescentes têm permanecido "desconectados" por apenas 2 ou 3 horas diárias, se tanto. Este é justamente o tempo máximo de exposição à tela recomendado por algumas entidades científicas para crianças e adolescentes. Daí a conclusão de que os jovens sofrem de intoxicação crônica por tecnologias digitais.

O estudo também revelou que os jovens mais desamparados socialmente, com pior saúde mental e elevados níveis de estresse, são os mais expostos às telas. O impacto da pandemia parece ser desigual para esse índice –assim como para tantos outros. Em geral, negros e pobres usam mais tela do que brancos e abastados. Qual seria a possível explicação?

Como assinala o ótimo Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria, "as novas mídias preenchem vácuos –ócio, tédio, necessidade de entretenimento, abandono afetivo ou mesmo pais ‘ultraocupados’, muitas vezes, com seus próprios celulares". É forçoso reconhecer que a pandemia amplificou esses vácuos, mas de modo desproporcional. Jovens pertencentes a famílias mais vulneráveis tendem a possuir uma rede de suporte e atenção mais restrita, por isso, mais rotineiramente, as telas lhes servem como uma espécie de bengala emocional.

Ocorre que o uso indiscriminado das tecnologias digitais está associado a uma série de problemas de saúde física e mental, que compreendem, entre outros, dependência digital, irritabilidade, ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade, transtornos alimentares e de sono, imagem corporal e autoestima, distúrbios visuais e auditivos, e abusos sexuais e morais de toda sorte.

Precisamos também lembrar que as atividades de tela são essencialmente sedentárias e, como tais, causam prejuízos às funções muscular, pulmonar, cardíaca, vascular, imunológica, pancreática e cerebral. Infelizmente, nem os jovens estão imunes à toxidade do sedentarismo.

No pós-Covid, as famílias, os profissionais da saúde e os educadores temos a missão de apresentar aos adolescentes um mundo novo –que gira com ou sem banda larga–, onde as atividades físicas ao ar livre, as práticas esportivas e os contatos com o outro e a natureza são opções prazerosas e salutares à redoma digital que os entristecem, emburrecem e adoecem.

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