Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Descrição de chapéu Eleições 2024

Quem é o prefeito de São Paulo?

Resta saber como Nunes, sem marca de gestão, irá dialogar com eleitorado que rejeitou bolsonarismo

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Quem é o prefeito de São Paulo? Poucos habitantes da cidade conseguem responder a tal pergunta prontamente e sem erros.

Ricardo Nunes, o desconhecido prefeito da maior cidade do país, é empresário, reside na zona sul e foi diretor da Associação Empresarial da Região Sul de São Paulo (Aesul). Eleito vereador pelo MDB em 2012 com 30 mil votos, e reeleito em 2016 com 55 mil votos, fez parte das bases tucana e petista na Câmara Municipal.

Vice de Bruno Covas nas eleições de 2020, Nunes afirmava à época que seguiria a mesma linha do então prefeito, que veio a falecer em maio de 2021. Contudo, Nunes se localiza bem mais à direita do prefeito tucano.

Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, durante evento no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo - Fernando Nascimento-28.ago.23/Governo do Estado de SP

Alinhado à ala conservadora da Igreja Católica, Nunes foi ferozmente contrário à realização de palestras escolares sobre gênero. Em outubro de 2016, muito antes da ascensão de Bolsonaro ao poder, o então vereador enviou um ofício à diretora Ana Elisa Siqueira, responsável havia mais de 20 anos pela escola municipal Amorim Lima, afirmando que a iniciativa era "ilegal", palavra que veio grafada em maiúsculas no documento.

A ideia das palestras era discutir com os estudantes temas como machismo, desigualdade de gênero e violência contra mulheres. Foi suficiente para que Nunes tentasse censurar as atividades ao requerer a "suspensão preventiva" das mesmas —"suspensão" grafada novamente em maiúsculas— "sob pena de providências imediatas e contundentes junto aos órgãos de fiscalização e controle, com a responsabilização daqueles diretamente envolvidos".

A diretora da escola, no entanto, não esmoreceu diante do ofício. As atividades programadas foram realizadas normalmente. Inclusive, no mesmo dia em que o documento de Nunes foi recebido, ocorreu uma palestra sobre a presença de mulheres na ciência.

Essa não havia sido a primeira investida de Nunes em sua cruzada antigênero. Em 2015, o empresário foi diretamente responsável por retirar do texto do Plano Municipal de Educação a menção à ideia de gênero. Em um carro de som, o político chegou a esbravejar: "Eu sou pela sua família, gênero não".

Ao que parece, o posicionamento de Nunes em relação ao tema precede sua carreira política. Antes de se tornar vereador, em fevereiro de 2011, o atual prefeito de São Paulo foi acusado de violência doméstica pela esposa, que registrou um boletim de ocorrência na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro.

Na época, a esposa de Nunes, em resposta a um pedido de que fosse cautelosa na exposição do caso, escreveu em sua rede social: "Amiga, tenho provas de que ele sempre me bateu e sempre foi um crápula".

A despeito disso, o casal seguiu unido, e hoje Nunes se apresenta no Instagram como "Marido, pai, avô e gestor de uma cidade bela e acolhedora".

Acusado em 2021 de ter recebido dinheiro no escândalo que ficou conhecido como "máfia das creches", Nunes irá disputar uma eleição difícil em 2024. Sem ter uma marca relevante de gestão, para além de uma intervenção antiquada e desastrosa na cracolândia, resta saber como irá dialogar com um eleitorado que já deixou clara sua rejeição ao bolsonarismo.

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