Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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São Paulo desafia extrema direita

Periferia da capital foi responsável por formar um cordão sanitário contra o bolsonarismo em 2022

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Acompanhar as tendências políticas da cidade de São Paulo é crucial para compreender os rumos da política brasileira. Não apenas são parte de sua história lançamentos de lideranças políticas, criação de partidos, sindicatos, associações empresariais e movimentos sociais que alcançaram âmbito nacional, como seu eleitorado eventualmente adianta tendências nacionais.

Marta Suplicy, por exemplo, foi prefeita na cidade pouco antes de Lula conquistar a Presidência pela primeira vez. Já a vitória de João Doria anunciou a ascensão de lideranças de direita mais radicais e ideológicas.

Eleitora em escola na região central de São Paulo, na eleição de 2020 - Rivaldo Gomes - 29.nov.20/Folhapress

A despeito de já ter abrigado candidaturas ideologicamente opostas na prefeitura, como Luiza Erundina e Paulo Maluf, é possível afirmar que existe certa estabilidade no eleitorado paulistano.

Desde os anos 1940, as classes altas e média altas votam, em sua maioria, de forma mais ideológica em candidaturas de direita. Na falta destas, recorrem ao voto útil e optam por quem mais se aproximar da defesa de pautas de direita. Historicamente partidos como UDN, PSD, Arena, PFL, PP e PSDB receberam os votos dos paulistanos mais ricos.

Assim, não é nenhuma surpresa que um candidato como Ricardo Salles, advogado de extrema direita formado no Mackenzie, tenha obtido votação expressiva no Itaim Bibi, um dos bairros mais abastados da cidade.

Já os moradores e moradoras de antigos bairros operários passaram a votar de forma mais consistente em candidaturas conservadoras de apelo mais popular a partir dos anos 1980.

Em 1945, tais bairros foram responsáveis pela maior votação do Partido Comunista em São Paulo —no entanto, quando o partido se tornou ilegal, o eleitorado operário optou por Jânio Quadros, candidato que se apresentava como contrário ao status quo, a despeito de ser direitista.

Depois, após votarem no MDB nos anos 1970 e 1980, os residentes dos antigos bairros operários optaram por Jânio novamente em 1985 e durante os 1990 aderiram ao malufismo. Não foi um acidente que Bolsonaro tenha obtido suas maiores votações na capital justamente em antigos redutos janistas, como Vila Formosa e Tatuapé.

Quem habita os bairros periféricos da capital, por sua vez, tende a optar por partidos e candidaturas que representam as demandas dos mais pobres. Historicamente, tais parcelas do eleitorado optaram por agremiações localizadas à esquerda do espectro político, como PTB, MDB e, atualmente, o PT.

Em situações polarizadas entre esquerda e direita, os habitantes dos bairros de periferia, sobretudo daqueles mais afastados do centro da cidade, tendem a escolher a primeira opção em detrimento da segunda, o que não impossibilita que candidaturas de direita conquistem a prefeitura, sobretudo em situações de crise da esquerda.

Contudo, a despeito de anos de desgaste sofrido pelo PT, a periferia de São Paulo foi responsável por formar um cordão sanitário contra o bolsonarismo no estado em 2022.

Não só Jair Bolsonaro perdeu na cidade, como também perderam o senador Marcos Pontes e até mesmo o governador Tarcísio Freitas, que procura se apresentar como moderado politicamente.

Ao que tudo indica, Salles vai precisar de mais que os parcos holofotes da CPI estapafúrdia contra o MST para ultrapassar os limites do Itaim Bibi.

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