Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Zema estimula radicalismo e conflito regional

Mineiro politiza problemas reais de forma canhestra e xenófoba como plataforma para 2026

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O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, tem buscado dar guarida ao eleitorado mais radical no campo das direitas. Enquanto Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, vem sendo tachado de "covarde" e "vendido" por extremistas ao apostar na moderação, Zema opta por continuar a estimular o radicalismo político a despeito da fadiga da maior parte dos eleitores brasileiros com a lógica do "nós versus eles".

Após a invasão golpista de 8 de janeiro, o político do partido Novo foi interpelado no STJ (Superior Tribunal de Justiça) por uma declaração caluniosa. Zema afirmou publicamente que "autoridades trabalharam para que os ataques ocorressem, de forma que, colocando-se na posição de vítimas, pudessem obter supostos ganhos políticos perante a sociedade brasileira e a comunidade internacional", ecoando narrativas conspiratórias que trafegam em meios bolsonaristas.

Diante de um fundo preto, um homem branco, de óculos e cabelos grisalhos. Ele veste um terno preto com camisa clara e está com a boca aberta, falando ao microfone que ele segura com as duas mãos diante do corpo
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, durante evento em São Paulo - Zanone Fraissat - 31.jul.2023/Folhapress

Quando Bolsonaro foi declarado inelegível, Zema apelou ao sensacionalismo para atrair atenção midiática. Valendo-se da conhecida tática bolsonarista de buscar holofotes por meio da criação de controvérsias fúteis a partir de declarações absurdas, comparou a atuação do Estado brasileiro ao fascismo.

No dia seguinte à decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o político mineiro afirmou em uma rede social: "Fomos os primeiros a afirmar que, quanto mais complexa se torna a civilização, mais se deve restringir a liberdade do indivíduo. Benito Mussolini". A publicação foi acompanhada da legenda "Bom dia".

Contudo, diferentemente de Bolsonaro, que nunca se importou com o potencial ofensivo de seus disparates, Zema não conseguiu sustentar a postura inflamada. Ao ser indagado sobre sua proximidade com extremistas de direita e sobre o mal-estar gerado pela frase do líder fascista, o governador respondeu, de forma truncada, que era favorável à liberdade de opinar e pediu desculpas por eventuais mal-entendidos.

Não contente em alimentar extremismos e suspeitas contra a ação estatal, agora Zema procura estimular conflitos políticos regionais como plataforma para 2026. A divisão regional que fez do Nordeste a principal reserva de votos do PT em eleições presidenciais teve início em 2006 e foi qualificada pelo cientista político André Singer como um realinhamento eleitoral. Passados 16 anos, o padrão se consolidou. Como bem se sabe, Bolsonaro ganhou em todos os estados do Sul e do Sudeste nas eleições de 2022, com exceção, justamente, do estado governado por Zema, Minas Gerais.

Aproveitando o timing das discussões da reforma tributária, Zema procura estender o imaginário paulista de locomotiva do país ao eixo Sul-Sudeste. Para tanto, politiza de forma canhestra e xenófoba problemas reais acerca da distribuição de responsabilidades tributárias por meio do chamado Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), que reúne mais de 250 parlamentares e agora terá escritório próprio em Brasília.

Contudo, se a estratégia de Zema de fato vem rendendo maior exposição midiática, ainda que negativa, faltam ao mineiro maior nacionalização e melhores habilidades políticas para substituir a preferência das direitas por seu adversário paulista.

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